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Calçando Solípedes

CALÇANDO SOLÍPEDES
53229497_564541190721502_3911987471692333056_nO ferrador, essa figura ´´sui generis´´cuja profissão, eu, me atreveria a dizer, estar hoje, em vias de extinção, e que era há alguns anos, para nós alentejanos, e em particular, em Barbacena, uma figura à qual estivemos habituados a ver exercer, aquela tão antiga actividade, e que agora, aos poucos, vai desaparecendo.

A nossa Vila, chegou a ter três dessas oficinas de ferradores, cujos artífices, exerciam em simultâneo, a actividade de ferreiros. Nas forjas existentes, eram fabricadas as ferraduras, essas delgadas tiras de ferro, em forma de ``U`` com seis orifícios, (três de cada lado), as quais eram fixadas na base da pata da animalia, essa parte óssea, chamada casco, que tem ser desbastada, com a ajuda do afiado formão, que com arte e perícia, era manuseado por aqueles profissionais experientes. Dava gosto, vê-los, em plena actividade, na rua, junto às suas oficinas, ora moldando as ferraduras, que tornadas rubras, por acção das elevadas temperaturas, atingidas pela hulha, ventilada pelo fole manual, se tornavam brandas, e moldáveis, para poderem ser ajustadas às patas dos animais solípedes.
Uma enorme torquês, um martelo de orelhas, um formão, e uma caixa de cravos ( pregos compridos, com que se fixam as ferraduras, aos cascos dos anilmais), constituíam os acessórios imprescindíveis, para o bom desempenho da actividade dos ferradores, quando se deslocavam ás herdades das redondezas, onde iam ferrar os inúmeros animais de tiro, ali existentes.
Com alguma frequência, se lhe deparavam animais mais esquivos, aos quais os artífices, tinham que aplicar, meios mais coercivos, com vista, a torná-los mais dóceis; geralmente era utlizado o famigerado ´´aziar”
[1], que os mantinha calmos, e prontos para serem ferrados.
Em Barbacena, houveram até quase aos finais do século passado, duas oficinas de ferradores, sendo ambas, propriedades de indivíduos, familiares entre si, de apelido Madeira; na Rua Direita, os irmãos João e António, detinham a exploração, de uma dessas lojas; no Largo da Feira, os, irmãos Eduardo, João e Manuel Pires Madeira, asseguravam o bom funcionamento, da outra; tanto uma, como a outra,desapareceram, devido a diversos motivos, sendo o principal, a acentuada transformação, operada na agricultura alentejana; ficam a saudade e a memória.
[2]

Setúbal, 27 de Fevereiro de 2019

[1] Instrumento para apertar o focinho das bestas.
"aziar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/aziar [consultado em 12-03-2019].
[2] TURQUÊS: Ferramenta com dois braços e uma boca de corte para arrancar a ferradura e os cravos e para cortar o casco do animal. Serve também para cortar os bicos dos cravos que são pregados para segurar a ferradura depois de rebitados com a mesma turquês.
FORMÃO: Para aparelhar o corte de casco do animal.
MARTELO: Para pregar os cravos e arrebitar os mesmos.
CRAVO: Espécie de prego de forma alongada e aspecto particular que serve para ajustar as ferraduras ao casco.
FERRADURA: banda metálica mais ou menos larga e comprida, encurvada sobre as sua espessura, em forma de arco de ponte, tendo oito cavidades quadradas piramidais na face inferior chamadas craveiras, onde se alojam as cabeças dos cravos.







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