SONHOS, QUE SÃO PREMONIÇÕES
A história que que hoje me propus, contar, para quem tenha
disposição e vagar para a ler, é baseada em factos reais, e passou-se com alguém,
das minhas afinidades, já faz tempo, mas que eu guardei na memória, e que hoje,
como já disse, me dispus a partilhar. Ali pelos finais dos anos quarenta, ou
talvez princípios da década de cinquenta do século passado, lá pela minha terra
de origem, que é, uma pequena vila perdida na imensidão da charneca alentejana, e
que tem o invulgar nome de Barbacena, onde como em qualquer outra povoação do
mundo cristão, se celebra os Dia de Finados, um menino com cerca de quatro ou
cinco anos, entrou na pequena capela do cemitério local ao colo de sua mãe, nesse
dia dedicado aos fiéis já falecidos.
Fausto, foi o nome fictício que eu escolhi, para este protagonista desta
narrativa, porque não quero estar aqui, a revelar, o seu verdadeiro nome.
Contou-me ele, que na sua pouca idade, ao deparar com uma das duas pequenas
imagens, expostas no exíguo altar, da capelinha, ficou um pouco assustado,
porque a imagem de S. Miguel Arcanjo, com uma expressão de altercado, e
empunhando uma enorme espada, na mão direita, e ostentando na outra uma balança,
simulava um ataque a alguém que tinha prostrado, sob os seus pés; na sua
inocência, própria da pouca idade, e ciente de que todos os santinhos, são
bonzinhos, Fausto, pergunta à mãe, a razão daquela expressão agressiva de S.
Miguel; a mãe, sossega-o, explicando-lhe que o santo, naquela imagem, atacava o
Demónio, que era mau, e que a balança, seria para pesar as almas; o pequeno
Fausto, aceita a explicação da progenitora, mas mesmo depois de crescido, ao
longo dos anos, de cada vez que visitava o cemitério da terra onde nasceu,
entrava na capela, olhava de soslaio para o tal santo com ares de guerreiro,
que desde a meninice de Fausto,, não granjeava a sua simpatia.
Chegada que foi a idade de mancebo, partiu Fausto, como os outros cento e tal
rapazes da sua Barbacena natal, para longe, cumprindo o chamado ``serviço
militar obrigatório´´; um belo dia, numa trivial conversa a sós, com o capelão
que dava apoio espiritual aos militares, que dele necessitavam, recebeu Fausto,
das mãos do religioso, uma pagela, que tinha uma oração, e no verso,.. sim..!!!
No verso, lá estava ele; com ar imponente, com cara de poucos amigos, o tal
santo que conhecia desde tenra idade, lá na capela do interior do «Campo Santo»
da sua terra; Não pôde conter um comentário em voz alta, que despertou a
curiosidade do capelão: «-até aqui, me apareces..!!»O padre deu-lhe a mesma
explicação, em relação à imagem do Arcanjo Miguel, que sua mãe lhe houvera dado,
havia perto de vinte anos.
Há meses, depois de passados todos estes anos, e numa conversa sobre santos, e
mantida entre mim, e o meu conterrâneo, a quem eu chamei Fausto, para evitar
revelar, quem é ele realmente, depois de me ter revelado, o que acabo de vos
contar, segredava-me, que tinha sonhado que, volvidos estes anos todos, ao entrar
de novo na tal capela, na sua terra de origem, onde outrora vira o tal santo com
a espada em riste, para matar o Diabo, ele o tal Arcanjo Miguel, e a outra
imagem de S. Francisco, que enfeitavam o pequeno altar da capelinha, tinham
desaparecido; era esta, a revelação do sonho, do Fausto.
Quando anteontem, alguém a partir de Barbacena, alguém, me dava conta de que,
realmente, as duas imagens, tinham desaparecido, levadas por mãos criminosas,
que nem o divino respeitam, na mira de obterem lucros com a venda de imagens da
chamada arte sacra, eu, nada atreito a estas coisa de crendices e premonições,
pensei para comigo; Seria premonição o sonho, que o Fausto me contou...?
Carlos Catalão Panaças
Setúbal, Segunda Feira, 28 de Outubro, de 2019, ás 14H55
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