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As caianças

AS  “CAIANÇAS”

38770657_435222066986749_4858474405463851008_nDe entre muitos predicados de que o povo alentejano se pode vangloriar, é sem sombra de dúvida, o esmero, o cuidado e o asseio, que esta gente cá do sul dedica, principalmente, às suas casas de habitação, e aos seus espaços envolventes.
Certamente, que aqueles que mais assiduamente, seguem estas minhas publicações, se lembrarão, de que, não é a primeira vez, que abordo este tema, talvez, porque o mesmo, me diz algo, e porque sempre gostei de ouvir elogiar, a pessoas de todos os quadrantes geográficos deste País, a alvura e a limpeza das casas, e das ruas, do nosso Alentejo.
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Alguns compêndios históricos relatam, de que desde sempre, teve este povo do sul da Península Ibérica, necessidade de se defender das elevadas temperaturas, atingidas no cume do Verão, quando a canícula, faz subir o mercúrio nos termómetros; a sabedoria popular, desde há muito sabe, que as cores claras fazem refractar a luz, no caso concreto, os raios solares, diminuindo portanto o calor intenso, igual a este que nos últimos dias, nos incomodou bastante, e que anualmente, nos meses de Julho e Agosto, tanto causticam, este povo, nascido no lado sul do rio grande, a que chamamos Tejo.
38678758_435221850320104_6438878909894230016_nModernamente, já são poucas as pessoas, que utilizam ainda, a chamada cal branca, que mais não é, que o calcário, tão abundante na zona de Estremoz, Borba e Vila Viçosa, e que se nos apresenta em forma de pedras, e que em fornos próprios, são submetidas a temperaturas altíssimas, e depois comercializadas, com o nome de cal branca; quando misturadas com água, entram estas pedras em efervescência, dando origem ao hidróxido de cálcio, produto esse, a que se chama cal, e com o qual se caiam as paredes.
Noutros tempos, pelas ruas de Barbacena, logo que o Verão dava chegada, era frequente ouvir-se o pregão do Sr. Botas, que vinha de Borba, com a sua carroça, puxada por um muar, vender cal, e que se fazia anunciar, soltando o caracterísco pregão, que ainda hoje recordo, e que era assim:
“Cal branca, a dois merrés o quarto..!!”
Confesso, que nunca cheguei a saber, de que unidade, era aquela porção, um quarto; da arroba, (15 quilos), não era, com toda a certeza, pois pesava muito mais que 3,75Kg, ou seja um quarto da arroba.
Como eu, muitos dos alentejanos, especificamente, os de Barbacena, terão certamente saudades, dos tempos, em que logo que chegava o Verão, e depois com maior incidência, quando se avizinhava a Feira da Vila, daquela azáfama matutina, que desde manhã cedo, vinha alterar a pacatez e o sossego do quotidiano, das nossas ruas; aquele arrulhar de passos, aquelas vozes em surdina, enfim... todo aquele aparato, ainda a madrugada era criança, anunciavam, que as crianças haviam começado, em Barbacena.
A cal velha que o Inverno tinha amarelecido, e desligado da parede, era arrancada com a ajuda de uma arrilhada ou uma espátula, para que a nova camada de cal, pudesse aderir melhor, à parede; empoleiradas em escadas ou escadotes, eram as mulheres, principalmente as mais jovens, que se encarregavam deste trabalho sazonal, que ainda hoje, se pratica no Alentejo interior, onde todavia, já é utilizada a tinta, preterindo, assim a cal.
Para gáudio de todos nós, os alentejanos, ouve-se por esse País fora, elogiar o esmero, o asseio e a alvura das casas e ruas, do nosso Alentejo.
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Setúbal,  07 de Agosto de 2018

NOTA
Das noticias sobre a cal
                                      A Câmara de Beja e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) querem candidatar as actividades associadas aos fornos de cal artesanal, típicas no Alentejo, a Património Cultural Imaterial da Humanidade, foi hoje anunciado. ( 2015)
A candidatura é uma “ambição” do protocolo de cooperação técnico-científica assinado hoje entre a Câmara de Beja e o LNEC para estudar as actividades associadas aos fornos de cal artesanal no concelho, disse à agência Lusa o vereador do município Manuel Oliveira.
. . .  e mais este apontamento:
                                                   Parece (é, pelo menos, o que dizem certos estudiosos) que a tradição de caiar as casas no Alentejo e no Algarve (para já não referir outras regiões da Europa meridional) nos foi legada pelos povos arabizados do norte de África, que por cá se mantiveram, como é sabido, durante alguns séculos e nos inculcaram hábitos que perduram. Tanto na nossa terra, como na deles, onde a tradição da caiação não só servia para embelezar, mas também para proteger as casas e os seus habitantes dos raios do sol, do calor de verões escaldantes.
. . .  e com nota de rodapé:
                                  Agora vá apanhar um solinho, não vá ficar branco/a como a cal




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