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As “noras” em Barbacena

As “noras” esses antigos engenhos


39154794_443283032847319_210952970920001536_nEm Barbacena, ultrapassava as duas dezenas, o número desses tão úteis engenhos, que ajudavam os incansáveis hortelões, a regar a hortas e várzeas. Cá pelo extenso Alentejo, haviam, e continuam a existir algumas, instaladas nos poços, que vão resistindo aos modernos sistemas de rega.
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Desconheço a razão, recebem as noras, este nome, na tradução que foi feita, para a nossa língua, quando os Muçulmanos as introduziram, por cá, na Península Ibérica; a designação nora tem no nosso léxico, uma outra conotação; como todos sabemos, o substantivo comum, “nora” designa, a mulher do filho; mas, também sabemos, que apesar de ambas as palavras serem entre si, homógrafas, os seus significados, são completamente, dispares.
39132653_443282599514029_1111056645896536064_nA nora é um engenho, que serve para tirar água, dos poços; é construída por uma roda, com alcatruzes, (vasos metálicos), encadeados num calabre flexível, que acompanha o perímetro da roda, que o faz girar. Foram os Muçulmanos, esse inteligente povo, que nos séculos VIII e IX, quando por aqui andaram, especificamente, no sul da Península, que trouxeram para estas paragens, tantas as noras, como os modernos (para a época), sistemas de rega, hoje considerados arcaicos e obsoletos.
Normalmente, as noras possuem uma haste horizontal, a que se chama cambão, acoplada a um eixo vertical, que por sua vez, está ligado a um sistema de rodas dentadas, que se imprimem movimento, umas às outras; este sistema faz circular um conjunto de alcatruzes, entre o fundo do poço, e a superfície exterior; os alcatruzes, descem vazios, são cheios no fundo do poço, regressam, e quando atingem a posição mais elevada, começam a verter a água, numa calha, ou tabuleiro, que a conduz por uma caleira ou tubos, que tanto faz, ser um tanque, ou outro qualquer reservatório. O ciclo de ida e volta, ao fundo do poço, para tirar água, mantém-se, enquanto se fizer rodar o eixo vertical, e o poço tiver água.
Tradicionalmente, as noras foram sempre engenhos, de tracção animal; em muitas hortas vieram as noras, substituir as antigas “cegonhas” ou “picotas”, que ajudaram durante muitos anos, o Homem no sistema de regas. Possuem os poços onde estão instaladas as noras, passeios circulares em volta do seu “bordo”, que mais não são, do que os trilhos, do movimento de tracção feita pelos animais, que movimentavam o engenho, sempre de olhos vendados, para não se desviarem do caminho, e não entontecerem; na zona de Barbacena, eram burros e muares, que faziam esse forçoso trabalho. Lembro-me bem, da rotina monótona, e do ranger dos alcatruzes no calabre, á tardinha, num murmúrio tristonho e cadenciado, que se tornava familiar ao nosso ouvido, quando passávamos junto ao muro da horta do Tio António Caras. Alta onde o velho muar fazia girar o engenho, na sua penosa missão, de encher o tanque, a partir do qual, aquele ancião, regava a horta.
Todas estas vivências, todas estas recordações, fazem parte de um rosário de memórias, que alguns de nós, mais seniores, guardamos, como algo, que reconforta.

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