oooo

 SE NADA MAIS SOUBERES AO MENOS
CONHECE A HISTÓRIA DA TUA TERRA


O Alavão

O ALAVÃO


17308793_172514099924215_5786720788475600523_nComo todos, ou quase todos os trabalhos das casas agrícolas dos montes e herdades do Alentejo de outrora, também este, exigia dos seus executantes, um esforço redobrado, devido às difíceis condições, que lhes eram impostas, pois, para além da ordenha, ser feita a horas mortas, durante a madrugada, as dificuldades eram acrescidas pelo facto dos “apriscos”  (redís ou bardos estreitos, onde eram encurraladas as ovelhas, para serem mungidas) serem montados no descampado, enfrentando todo o tipo de intempéries, tão frequentes no Inverno e parte da Primavera, enquanto durava o chamado: alavão.

ler mais

Dois homens, o pastor, e mais um ajudante, tinham por missão mungir, durante a madrugada, na primeira ordenha do dia, cerca de um milhar de ovelhas, que tinham parido recentemente. Ao cair da tarde, procedia-se a uma segunda recolha de leite, chamada a ordenha da tarde.
Quando chovia, todo o aprisco se transformava num autêntico lamaçal, devido ao espezinhar constante dos animais, que tentavam esquivar-se ao “furto” do alimento dos filhos, que fora do redil, as aguardam, para mamar. Acocorados, para melhor poder ter acesso aos úberes (amôjos) dos animais, desprovidos muitas vezes de indumentária adequada, para se poderem preservar das intensas chuvadas, recolhiam no “ferrado” (vaso metálico, destinado exclusivamente, à ordenha), o produto de cada mungição.
Hoje, todo este trabalho, é feito mecanicamente, não tendo a actual actividade de um alavão das modernas queijarias, qualquer semelhança com a que era efectuado noutros tempos.
No tempo em que para além das queijarias existentes nas ucharías, dos montes alentejanos, onde a actividade agrícola, obrigava os latifundiários proprietários e rendeiros, a contratar a tempo indeterminado centenas de trabalhadores agrícolas, e havendo necessidade de os alimentar, sendo o queijo um dos alimentos, facultados a esses assalariados, obrigando portanto, que nas queijeiras, ou queijarias dos montes, tivessem que fabricar muitos milhares de queijos anualmente, existiam ainda em Barbacena, algumas queijarias do tipo artesanal, que comprando o leite remanescente dos alavões dos montes vizinhos da Vila, ou fazendo o alavão do leite dos pequenos rebanhos de que eram proprietários, forneciam aos habitantes da Vila, que nessa altura eram alguns milhares, tanto o queijo fresco e curado, como outros produtos lácteos, que mais não eram, que o remanescente do fabrico do queijo, como o requeijão o almêce ou atabefe, e ainda o rescaldão, ou seja, o soro do leite, produto esse destinado á alimentação do suíno, que cevava no chiqueiro de muitos quintais da Vila. Num passado mais remoto, a queijaria da tia Vicência Laço, ali ao Rossio, na Rua Alfredo Andrade, vendia-nos o requeijão, acabado de fazer, e ainda o almêce, para se comer com sopas de pão. Mais recentemente, funcionaram em Barbacena, várias queijarias, como a de António Borrego Carvalho, na Praça do Pelourinho, a da família Caldeirinha, na Rua 15 de Dezembro, a de Cecília Nota, na Rua da Boa Vista, a de Júlio Corricas na Rua da República, a de João Gadanha Cachucho, na Rua Alfredo Andrade, e outras mais de reduzidas produções. O leite para as queijarias a operar na Vila, era trazido por rapazes, denominados de “roupeiros”, que montados numa animália (muar ou burro), no qual eram instaladas “cangalhas” para poderem transportar os cântaros metálicos cheios de leite, chegava ao aprisco, pela madrugada, cedo, ainda a ordenha não tinha terminado, o que permitia a que também ele próprio, o roupeiro, pegasse num ferrado, e ajudasse o ordenhadores, para mais depressa, poder trazer o leite para a Vila, onde já era esperado, pelo pessoal da queijaria, que de imediato, iniciavam mais um dia na ancestral arte de fazer queijo.
Era assim na minha terra, Barbacena, no Alto Alentejo, que se processava essa tão antiga actividade rural, chamada alavão.
   17352525_172512239924401_9170655613422870749_n   17362506_172520986590193_4203994653352659442_n   17342859_172513733257585_6305199839993976811_n

          17361841_172512506591041_7288890773636211894_n  17389006_172519989923626_7348909579334335121_o   ordenha Macal do Chao
Setúbal,  2018.07.05-


PÁGINA INICIAL

Sem comentários:

Enviar um comentário