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As Ceifas ou Acêfas

AS CEIFAS OU “ACÊFAS

Ceifeira, linda ceifeira,
Lá, no meio do trigueiral,
Ceifando, trazes uma espiga
No bolso do avental
No bolso do avental
Traz a foice à sua beira
Ceifando no trigueiral
Ceifando, linda ceifeira
Era um virar de página, na vida dos campos.

COLHEITA - CEIFEIRAS  1893 Silva Porto Museu Nacional Soares dso Reis Porto

*
Mulheres de todas as idades remendavam a “copa” (vestuário), falavam das “acêfas”, começava a azáfama das manajeiras, primeiro contratando as mulheres, para a faina, e depois superentendendo no terreno, durante a lida diária, as suas contratadas, sob a sua responsabilidade.
Chegara a época de um dos trabalhos mais difíceis, na dura vida do campo. Na véspera do começo das ceifas, era grande a excitação, reinante na Vila, e as lojas ficavam cheias de clientes, que levavam fiado, prometendo pagar, no fim da empreitada estival. O primeiro dia do duro trabalho, chegara; no velho relógio da torre da igreja de Nossa Senhora do Paço, tinham batido, havia pouco tempo, com sonoras pancadas, as duas horas da madrugada, e já as três manajeiras de outros tantos ranchos de ceifeiras, que haviam na Vila, batiam com sonoras pancadas nas portas das casas das contratadas, com o intuito de as acordar, e as fazer levantar, para depois, de uma longa caminhada, enregarem ao trabalho, lá longe, algures nas herdades, depois da manajeira confirmar que ninguém faltava, partiam em alegre algazarra, cantando lindas cantigas, parecendo a quem não soubesse da origem e significado daqueles magotes, que toda aquela gente iria para uma festa nocturna.
A justificação da manifesta alegria exteriorizada, principalmente por parte das mulheres mais novas do rancho, não era certamente, o valor da parca jorna, que iriam auferir, pois a mesma, não se coadunava com o enorme esforço que lhes era exigido, na dura faina da ceifa. Na verdade, a ceifa, era um trabalho duro, e árduo; era preciso ter tempera, e estarem habituadas a suportar o calor de brasa, que caía do céu de chumbo, com estoicismo; só quem, nunca viu estas mulheres ceifeiras, curvadas sobre a terra, empunhando a foice, na mão direita, e com a esquerda, agarrando os caules das espigas, que uma mancheia pode abarcar, caules esses, que cortavam de um só golpe, o mais junto á terra possível, não sabe avaliar bem, a natureza violenta deste trabalho campestre.
Ao chegarem às searas, depois de uma longa caminhada, descansavam, sentando-se no chão, cada uma conversando para seu lado, até á chegada do encarregado, que de imediato, dava ordem, para o começo do trabalho. Enfiavam as braçadeiras, depois de prenderem as saias, junto aos joelhos, e acautelavam os dedos da mão esquerda, enfiando-os em canudos feitos de cana, protegendo-os dos golpes, das afiadas foices; protegiam-se da inclemência do sol, cobrindo as cabeças, com grandes chapéus de abas largas; os rostos eram protegidos, com grandes lenços, de ramagens; depois, começava a refrega; iam ceifando, e os atadores corriam de um lado para o outro, a fazer molhos com trigo segado, pelas mulheres. À hora do almoço - refeição essa, que ocorria por volta das oito horas da manhã -, sentavam-se à sombra das azinheiras, ali, perto do eito da ceifa. Abriam as bolsas de pano, e destapavam os tarros, onde transportavam as frugais refeições confecçionadas à base de pão, e retemperavam forças, para suportar o resto da jorna.À tardinha quando o encarregado assinalava a “solta”, voltavam a Barbacena, cantando, com a certeza, de que na próxima madrugada, quando se ouvissem bater as duas horas da madrugada, no relógio da velha torre da igreja de Nossa Senhora do Paço, a manajeira, voltaria a bater às suas portas, para darem inicio a mais um dia de “acêfa”.

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COLHEITA - CEIFEIRAS (c/ 1893)
Silva Porto  1850 1893
Óleo sobre tela
Museu Nacional de Soares dos Reis Porto

Barbacena,  28 de Setembro de 2018

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