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 SE NADA MAIS SOUBERES AO MENOS
CONHECE A HISTÓRIA DA TUA TERRA


Os Cantores “Realinhhos”.


OS CANTADORES “REALINHOS”

16864518_157420931433532_1993730004382383019_nPor entre as ervas do prado, papoilas e giestas, que lhes serviam de camuflagem, e lhes escondiam o buraco feito no chão, e que lhes servia de toca, caminhávamos pé ante pé, quase em passo de fantasma, para os surpreender, em plena cantoria, e saber ao certo, onde eles se escondiam, e assim os podermos capturar. Como já certamente, terão inferido, é de grilos, que hoje, vou tentar escrever, e recordar, ao fim de tantos anos, uma caçada aos grilos,
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esses insectos ortópteros, alados, mas incapazes de voar, e que nos meses de Primavera e parte do Verão, nos deliciam, com o seu melódico canto, ora em pleno campo, por entre os fenos da pastagens dos gados, ou enclausurados em gaiolas, feitas dos mais diversos materiais, tais como cana, cortiça, arame ou buinho, ou mais modernamente, em plástico.
Mas, voltemos ao recordar de uma busca e tentativa de captura do incansável cantador, que agitando as asas, com uma velocidade apreciável, emite um som, mais agudo e agradável, que o da ociosa cigarra, sua companheira de descantes, quando a canícula tórrida e inclemente, se faz sentir na campina alentejana. A caça aos grilos, era uma traquinice dos gaiatos da minha laia; íamos pelos campos, apanhar grilos, localizando-os, pelo som, por eles emitido, através do rápido agitar de asas, que apenas servem para fazerem “gri gri”.Geralmente, a caça, era colectiva, procurando cada um dos garotos, guiármo-nos, pelo som que nos parecia ser, mais agradável ao nosso ouvido, no meio daquela profusão de sons, autêntico concerto de grilos, ralos, relas e rãs, e outros inquilinos dos campos floridos do Alentejo. O escolhido por cada um de nós, era logo, apelidado de “realinho”, por nos parecer, que cantava mais e melhor, que os outros elementos da enorme e bem afinada,”orquestra”.
16806649_157420908100201_143028135384618925_nDepois de detectado o buraco, onde o músico se refugiara, com a ajuda de uma palhinha, ou caule de qualquer planta, colocávamos a mesma, na toca, e agitando-a, tentávamos que o fugitivo saísse sem termos que recorrer ao plano B, que consistia em fazermos uma micção, (urinar) para dentro do buraco do pobre bicho, que preferiria, entregar-se ao captor, que levar com a fétida matéria orgânica, que lhe inundaria a “casa”.
Trazíamos -los dentro dos bonés, até à Vila, onde mesmo sem julgamento, o esperava a clausura em gaiola, onde até morrerem, o que ocorria geralmente no fim do Verão, alimentando-se exclusivamente de serralhas, cantava dia e noite, deliciando o seu captor, e quem o ouvia. Naquele tempo, era rara a casa, que em Barbacena, não tivesse dependurada à porta, uma gaiola; e dava gosto, ouvi-los mesmo durante as noites cálidas de Verão, no seu “gri gri” tão doce e que nos ajudava a adormecer.
Ainda há pouco tempo, nos campos de Barbacena, ao ouvir um, cantar, procedi de igual modo, como em gaiato, e vi-o entrar lesto e assustado para o buraco; só que desta vez, deixei-o ficar no seu habitat natural, talvez por agora, saber dar mais valor à liberdade, e respeitar a curta vida do pobre grilo, que vive apenas, até o Verão findar.

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Setúbal,  2018.06.12


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