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Os Casórios de Antigamente


OS CASÓRIOS DE ANTIGAMENTE.

34984817_380702009105422_5635305681457250304_nCausará certamente, surpresa, principalmente aos leitores mais novos, desta minha publicação, quando eu, lhes disser, que ali pelos anos 50 e 60 do século passado, por alturas da Feira da Vila, (principio de Setembro),em alguns desses dias festivos, lá na Vila, chegaram a realizar-se doze casamentos, e em certos anos, mais do que estes; em meu entender, existiam nessa época, factores, que contribuíam, e muito, para que tantos enlaces matrimoniais se efectivassem; havia nessa altura, nas pequenas localidades do interior, um sacramental respeito, por essa ancestral instituição, que era, e ainda é a união matrimonial, tradição essa, que de há uns anos a esta parte, caiu, em desuso. Por outro lado, viviam nessa época em Barbacena,
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cerca de três mil pessoas, e como é lógico, muitos mais jovens, com idade de constituir família, haveriam nessa numerosa comunidade.
Depois destes considerandos, tentarei descrever, como decorria o ritual, e o festim, desse dia memorável, para muitos dos meus patrícios, alguns dos quais, felizmente, ainda estão vivos.
Alguns dias antes, nas casas dos pais de ambos os nubentes, a azáfama era uma constante, na preparação das comezainas, para o grande dia; um, ou dois ovinos e algumas galinhas, eram sacrificadas, pois naquele tempo, recorria-se á carne destes animais, para preparar as iguarias, que iriam ser servidas, aos convivas, durante os dias que em geral, eram sempre dois, em que durasse o festim;
Na véspera do dia, da boda, um grupo de raparigas, amigas da noiva, que em geral, eram jovens solteiras, encarregavam-se de alindar, o leito conjugal, do futuro casal.
Na manhã do grande dia, tanto na casa dos pais da noiva, como na dos pais do noivo, a mesa era posta, para que todos os vizinhos viessem participar num beberete, que servia, para as duas famílias, obsequiarem as respectivas vizinhanças.
Ao almoço, cada uma das casas, dos futuros ´´compadres``, obsequiava nas suas próprias residências, os respectivos ´´lotes´´ de convidados.
Convém aqui frisar, que, geralmente, todos estes casórios, se realizavam nos dias, das grandes festas da Vila, facto esse que contribuía também, para animar o ambiente existente, em redor do casório, pois grande parte dos convidados para a boda, aproveitavam, para estarem com as famílias, durante aqueles dias de festa.
Voltando á descrição das diversas ´´etapas´´ da boda já com a tarde chegada, registava-se a chegada, dos respectivos padrinhos, a casa dos afilhados, para, em cortejo apeado, se dirigirem á igreja; tal como ainda hoje, quando ainda sobrevivo, o pai da noiva, acompanhava a filha até ao altar.
Depois do grande momento, que era a confirmação do enlace, e da oficialização da cerimónia, que era em simultâneo, civil e religiosa, com autos lavrados na sacristia, o cortejo, agora já com todos os acompanhantes, juntos, dirigia-se, apeado, na mesma, para casa dos pais do noivo, onde era servido, o tradicional ´´copo de água´; entretanto, e durante o tempo directamente relacionado com a ´´recompensa´´ que os padrinhos tinham oferecido, ao sacristão, os sinos, da torre da Matriz repicavam alegremente, assinalando o acontecimento; á saída da igreja, os padrinhos, com as tradicionais bolsas, lindamente bordadas, e cheias de rebuçados e amêndoas, pareciam semeadores, atirando para o meio de uma revoada de gaiatos, que junto ao adro da igreja, esperava por aquele momento; as quedas de alguns dos petizes, e a gritaria dos mesmos faziam também parte da festa.
Durante o banquete servido durante a tarde, em casa dos pais do noivo, e depois de alguns dos presentes se ´´desinibirem´ ´com ´néctares espirituosos´´, ouviam-se saudações em forma de rimas, como estas:

                 Viva o noivo, mais a noiva,
                 Que se foram a casar,
                 Deus, lhes dê muita saúde,
                 E bons anos para gozar..!!

                Ou outra ainda, desta vez, dirigida a todos os presentes:

                Viva o noivo, mais a noiva,
                E vivam quem os criou,
                Os padrinhos e as madrinhas
                E quem os acompanhou..!!

Durante a ceia da boda, em que eram servidos o tradicional ensopado de borrego e a tomatada de galinha, prosseguiam os descantes, em louvor dos noivos; se o espaço da casa o permitisse, haviam alguns passes de dança, a toque de acordeão; a festa durava, até ao alvorecer;
No segundo dia de casamento, embora com menos fulgor, por parte dos convivas, a festa prosseguia. Outra das grandes diferenças verificadas entre estes casamentos de outras épocas, e os poucos que ainda hoje, se vão realizando, é que naquele tempo, a chamada ´´lua de mel´´, era passada a trabalhar logo a fim de três ou quatro dias de terem oficializado a união.

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Setubal, 2018.06.11

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