CADA ALQUEIRE, UM CELAMIM
O Ti Fausto, era o velho moleiro, do engenho, que levava o trigo, centeio e milho produzidos aos vários seareiros barbacenenses, lá pelas sua courelas, acondicionado em sacos de sarapilheira, sobre a albarda que o Janota, carregava sobre o dorso. O Janota era um jumento, que o esforçado moleiro utilizava para o transporte do grão e da farinha, no trajecto que separava a azenha, da Vila.
De regresso, a Barbacena, traziam eles o Ti Fausto e o Janota, vários talêgos, cheios de farinha, produto de muitas horas de trabalho, naquela actividade, à qual o velho moleiro se entregava, desde menino.
A labuta da moagem, só durava, enquanto o caudal da ribeira, o permitia, o que acontecia, durante os meses, em que a chuva caía, com maior abundância; nesses meses, a velha azenha, já meio derruída, laborava dia e noite, exigindo da parte do Ti Fausto, um esforço redobrado, no seu posto de vigilante; sentado numa velha mó já carcomida, devido ao trabalho incessante, na qual, durante a noite, incidia a luz ténue de uma candeia, alimentada a azeite, Fausto, ia remexendo lentamente os bagos de trigo, que, com a cadência que os movimentos das mós determinavam, iam deslizando no ´´quelho´´, o que exigia, da parte do moleiro uma chegadela à ´´tramela´´, abrindo-a mais, para que o cereal pudesse deslizar com maior celeridade no buraco da mó de cima, e pudesse ser moído.
Mesmo durante os meses de Verão, durante os quais, a actividade da azenha, estava parada, era lá, naquele lúgubre lugar, que o moleiro Fausto, vivia, ali junto à mesma ribeira, que lhe ajudava a ganhar a vida mas que em contrapartida, já lhe roubara um filhinho de tenra idade, levado na corrente, num dia de triste memória, em que a própria azenha, parecia não ser suficientemente forte para resistir à borrasca.
Mesmo durante os meses de Verão, durante os quais, a actividade da azenha, estava parada, era lá, naquele lúgubre lugar, que o moleiro Fausto, vivia, ali junto à mesma ribeira, que lhe ajudava a ganhar a vida mas que em contrapartida, já lhe roubara um filhinho de tenra idade, levado na corrente, num dia de triste memória, em que a própria azenha, parecia não ser suficientemente forte para resistir à borrasca.
Era ali, junto à ribeira, que ele morava; ali era o ´´seu mundo´´. Nos pequenos leirões, desenhados em forma de socalcos, um pequeno hortejo, que ele regava com água retida nos pégos profundos, da ribeira, retirava Fausto, tudo o que a terra adubada com o nateiro da agora seca, linha de água, lhe dava. Tal como a mó, girava, movida com força motriz, gerada por bater da água nas ´´penas´´ da enorme roda, no “cabouco” da azenha, também a vida do valente Fausto, era dura e exigente, sem domingos e feriados durante os quais, pudesse descansar.
No pino do Inverno, o caudal da ribeira, engrossava, e a ´´levada´´ que conduzia a água até à ´´caleira´´ do moinho, permitia, que enquanto houvesse água no ´´açude´´, nem o moleiro, nem o velho moinho de água, descansavam, as pesadas mós de granito, faziam o resto.
O burro pachorrento, por vezes, resmungava, quando pelas poeirentas veredas do caminho, até Barbacena, a carga dos talêgos da farinha, destinados aos donos aos donos dos cereais, que dias antes levara para o moinho, lhe faziam doer a lombada. O dono, apeado, e que o seguia à traseira, murmurava em surdina, uma lengalenga, como se o Janota, o entendesse, naquele sussurro, quase inaudível; dizia ele:
- Cada alqueire, um celamim...!! Com a ´´maquia assim tão baixa, isto não dá, nem pró pitrol..!!.
Chegados à Vila, começava a entrega porta a porta, dos talêgos da alva farinha, cujo pó branco, contrastava com a negritude das vestes do moleiro. Durante a conversa com os clientes, faltava ao moleiro discernimento, para lhes dizer, que a maquia cobrada por ele, na moagem, do trigo milho e centeio, era baixa, todavia no caminho, de regresso à azenha, como que a imputar culpas ao prestimoso e fiel Janota, ia sussurrando baixinho:
- Cada alqueire, um celamim, com a maquia assim tão baixa, isto dá nem pró pitrol..!!
Legenda ou prontuário:
Açude: represa construída no leito de uma linha de água.
Alqueire; medida de secos, que varia de região para região. Pode ir de 13,215, a 22,605, litros.
Celamim: medidas de secos, que é a décima sexta parte de um alqueire.
Levada: corrente de água encanada para levar a água ao moinho.
Maquia: contrapartida em géneros, que servia de paga pelo trabalho executado.
Quelho: caleira estreita, por onde o cereal escorre para o olho da mó.
Tramela: peça feita em madeira, que serve para regular o caudal do cereal para o olho da mó
Penas: asas da roda giratória, que pressionadas pelo caudal da água, fazem girar o engenho
Talêgo: saco, ou bolsa de pano, larga, que serve e para transportar secos.
Caboucos: local (cave) que estavam montados os rodízios.
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