AS DEBULHAS NO "CELEIRO DA NAÇÃO"
O fim das ceifas dava lugar ao "acarreto" que consistia no
transporte de cereal, que após a sega ou corte, permanecia no restolho, à
espera de ser trazido para a eira, onde seria debulhado; desse transporte, que
era feito em carroças, tiradas por muares ou bovídeos, se encarregavam os
carreiros ou almocreves, que às dezenas e em fila indiana, o traziam, em
volumosas e bem acondicionadas carradas, como algumas das fotos que anexo,
documentam, bem demonstram; havia mesmo despiques, entre os homens almocreves,
tentando superarem-se uns aos outros, na arte de fazer carradas, dignas de ser
admiradas, pelos apreciadores; também se aperfeiçoavam, para não perderem as
apostas que faziam entre si, tentando perder o menor número de molhos de cereal
durante o trajecto para a eira: conheci vários destes exímios almocreves, que
raramente "perdiam" feixes de cereal. Já na eira, os molhos, eram
acondicionados em medas redondas, largas e altas, com cerca de dez metros de
altura; os nomes dessas medas variavam de região para região; assim, em todo ou
quase o concelho de Elvas, eram chamados de "relheiros"; já no distrito de
Évora e mesmo em Beja, recebiam o nome de "frascais".
A eira, era geralmente instalada num local de piso duro se possível elevado, e
bem arejado pelo vento, e o mais próximo possível do monte da herdade; os
citados"relheiros", que geralmente tinha a forma de pirâmide, e as suas
bases, não raramente atingiam áreas, quase sempre a rondar os cem metros
quadrados, de superfície, e a sua estrutura interior, era subdividida em
distintas partes, separadas umas das outras e que tinham a designação de "repes".
Nesse tempo, os pequenos seareiros de Barbacena, procediam à debulha das suas
searas, dispondo os molhos de cereal, em forma circular, estendido no chão da
eira; depois, com uma pequena atrelagem, denominada "trilho" e que era tirada
por um muar, e que cujo rodado era constituído por dois rolos de madeira, onde
estavam acopladas várias peças metálicas que tinham a forma de lanças, as
quais, em conjunto com o espezinhar dos animais que puxavam o "trilho",
separavam a semente da palha; depois com a ajuda do vento, separava-se
definitivamente a palha do grão.
Mais tarde, as debulhas, passaram a ser feitas, por máquinas fixas, que de
herdade em herdade, iam debulhando as searas aos lavradores; eram movidas, por
potentes máquinas a vapor, cujo combustível, por elas consumido, era a lenha.
Nos últimos anos em que a produção de cereais, ainda persistiu, no Alentejo,
que, com alguma justiça, era chamado de "Celeiro da Nação", eram já os
modernos tractores, movidos as diesel, que accionavam as máquinas debulhadoras;
logo que a máquina, dava chegada à nova eira, onde iria iniciar a sua faina,
era a mesma instalada, e nivelada no intervalo previamente destinado a ela, no
meio dos frascais, que em primeiro lugar, iriam ser debulhados. O bom funcionamento
da máquina debulhadora era supervisionado por um técnico especializado, que na
gíria campesina, se chamava maquinista. Um sofisticado sistema de rodas dentadas,
muitos crivos sobrepostos uns sobre os outros, muitas polis, e correias de
lona, que transmitiam o movimento, entre essas polis, tinham como função,
separar o grão da palha; a palha era encaminhada por um "batedor" para a
parte traseira da máquina, onde dois homens, equipados com óculos protectores e
com as bocas e narizes protegidos, a afastavam para longe da máquina. O cereal
depois de limpo, vinha sair a um bocal, instalado na frente da máquina, onde o
saqueiro, o aparava, para largos sacos de serapilheira, que eram de seguida,
pesados e empilhados.
Eram assim, as debulhas do trigo e outros cereais no Alentejo, noutros tempos,
chamado o "Celeiro da Nação".
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