Maltêses do Alentejo
Maltês do meu Alentejo,
Errante, pelos campos fora
Há anos, que te não vejo
Felizmente meu irmão,
Que não malteias agora,
Nos montes e nas herdades
Que envoltas em solidão,
Já de ti, têm saudades.
A
palavra maltês, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro
Machado, tem como significado, ser natural da Ilha de Malta, ou ainda, ser
cavaleiro da famosa Ordem de Malta; porém, em certas regiões do nosso País,
outras conotações, são dadas, a esta mesma palavra.
Ser maltês no Alentejo, por volta do segundo quartel do século XX, era ser um
homem sem rumo, para a sua existência, devido à inexistência de trabalho, fosse
onde fosse, vagueava de terra em terra, de monte em monte, lutando pela própria
sobrevivência, pedindo esmola, feito indigente.
No meu Alentejo, ou seja ali no concelho de Elvas, e noutras terras limítrofes,
as pessoas, achando talvez, ainda pouco pejorativo, o epíteto com o qual eram
apodadas estas pobres criaturas, pespegaram-lhes, também a alcunha depreciativa
de ``pombos´´. Eram mendigos errantes, mal-encarados, e que devido ao seu
aspecto descuidado e andrajoso, eram considerados, pessoas desprezíveis; Fialho
de Almeida, numa das suas obras, fala deles, tão acremente, que nos incute dó.
As condições de vida no Alentejo, naquela época, eram terrivelmente, penosas, e
o número de pessoas sem trabalho fixo, ou até mesmo sem qualquer tipo de
trabalho, era bastamente elevado, sendo a única possibilidade de sobrevivência,
a esmola.
Ao contrário de outros seus companheiros de infortúnio, como ciganos ou
espanhóis, vítimas dos efeitos nefastos da fratricida[1] Guerra
Civil Espanhola, que perseguidos, se acoitavam em Portugal, embrenhando-se nos
extensos matagais alentejanos, e escondendo-se, em almearas (medas de palha) nas eiras dos montes, durante semanas
inteiras, tentando preservar as suas próprias vidas, e fazendo as suas
habituais ``rondas´´, pelos montes das herdades; não permaneciam mais que uma
ou duas noites em cada monte, que escalavam; circulavam sempre entre os locais,
onde sabiam, ter sempre garantida a esmola, quase sempre, consubstanciada em
alimentos, como sopas de pão, migas, etc. etc.
Havia quem afirmasse, que a sua presença, era muitas vezes, benéfica, para os
donos das herdades, pois os verdadeiros marginais, que geralmente tinham um
aspecto muito mais cuidado e apresentável, do que o dos malteses, e a horas
mortas, tentavam surripiar, algo dos montes, ao depararem com os errantes e
andrajosos ``pombos´ ´tinham receio de serem por eles, denunciados, e acabavam
por não concretizarem, os reprováveis actos.
Nas várias leituras e pesquisas que fiz, com o intuito de angariar informação,
com que pudesse tornar mais idónea esta minha publicação, e de encontrar
situações relacionadas com os malteses, e análogas, àquelas vividas, por lá na
minha zona de origem, deparei-me com narrações, bem prosaicas, relacionadas com
os malteses, como por exemplo, esta, que nos conta, que na região de Torre Vã,
e em São Marcos da Ataboeira (Baixo Alentejo), algumas pessoas de boa índole,
chegaram mesmo a fundar uma instituição, a que deram o nome de «Casa da Malta»,
e que tinha por finalidade, dar alimentação, asilo e apoio moral, a estes
pobres nómadas, que de monte em monte, apenas procuravam sobreviver.
Conta-se em tom jocoso e brincalhão, que como em todas as ocupações, ou se
preferirmos, em todas as profissões, também na de maltês, haviam os seus
códigos de conduta, e que para que os candidatos a tal ocupação, ficassem aptos
a poderem desempenhá-la, teriam que previamente, ter uma formação adequada,
sendo a mesma, ministrada, por debaixo da tão badalada «Ponte da Marateca»,
aqui pertinho de Setúbal. Para além de aprenderem a jogar o famoso e útil, jogo
do pau, o qual tinha como finalidade, ensiná-los a defenderem-se de alguns
perigos, como dos ataques dos lobos, dos cães dos montes que não os
reconheciam, ou ainda de marginais que porventura, os atacassem; tinham também,
estes pobres filhos de um Deus menor, que aprender a fazer as célebres migas
alentejanas, numa frigideira de rabo, as quais, depois de feitas, e quando já
se soltavam do fundo da dita sertã, eram atiradas pelo candidato, a partir de
um dos lados da ponte, correndo o candidato por debaixo da ponte, e apará-las
do outro lado, da mesma; se a prova fosse superada, o ``diploma´´ comprovativo
da condição de maltês, era atribuído ao candidato; escusado será dizer, que
cada um de nós é livre de dar a credibilidade a esta lenda, que a nossa própria
consciência, nos ditar.
Dos malteses, ou pombos, guardo algumas recordações, as quais em nada, os
desprestigiam naquele tempo, em que eu, bem jovem, com eles convivi, ao invés,
de algumas experiências tidas por mim, na convivência que tive com outros
``marmanjos´´, com os quais, infelizmente, me cruzei cá neste Mundo, os quais
tinham bom aspecto, boas ocupações profissionais, vestiam, roupas caras, mas
como gente, não valiam sequer, uma flatulência ou seja, um peido de um maltês
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