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 SE NADA MAIS SOUBERES AO MENOS
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AS SORTES







AS SORTES


Rapazes vamos ás sortes..!!

Temos que cumprir a Lei..!!

As moças ficam na terra,

Eu, por ser moço, lá irei..!!
Durante a Primeira Guerra Mundial, conflito que eclodiu na Europa, no princípio do Século XX, e para onde foram enviados, muitos soldados filhos de Barbacena, no dia das ´´sortes´´, os mancêbos, cantavam uma quadra parecida com esta, criticando a desonesta selecção, que era feita, para escolher quem iria, ou não, para os campos da metralha:
Cantavam assim:
Rapazes vamos para a guerra,

Que nos manda o nosso Rei...!

Os ricos, ficam na terra,
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Eu por ser pobre, lá irei...!!
Estas eram algumas das quadras, que antigamente, os moços da minha terra, cantavam, no dia em que iam á inspeção militar, a que vulgarmente se chamava ´´as sortes``, visto nesse dia, em pleno teste, fazer parte do mesmo, a extração de um número, de um saco, (número mecanográfico), o qual acompanhava o jovem, durante toda a vida militar, sendo por vezes, esse número, um elemento, influenciador, no destino do mancebo, que alietóriamente, o tirou do saco. Cabe-me aqui, lembrar, que estávamos em plena vigência, do férreo e austero ´´serviço militar obrigatório”.

Coincidiam todos os anos, com os festejos dos Santos Populares, e os mastros, e o ambiente festivo, reinante na Vila, remanescente dos bailaricos dos três santinhos, serviam também, para que se fizessem os bailes da rapaziada da inspecção militar, ou sejam, as sortes.
Naquele tempo, em Barbacena, e em todo o País, era assim; rapaz que nesse ano fizesse os vinte anos, era avisado através de edital, que teria que se apresentar num dos quarteis militares em Elvas para ser inspecionado, por uma junta médica, que o iria considerar apto ou não, para todo o serviço militar. Para muitos deles, dessas duas dezenas e tal de mancebos, era o reencontro, com os antigos companheiros de escola primária, agora já homens, prontos a assumir responsabilidades como adultos, que eram.

Na véspera desse dia memorável, para todos eles, era tradição, estes jovens, procurarem um local recatado, longe das vistas de outras pessoas, onde houvesse água límpida, como um ribeiro, ou um tanque ou lago de quinta ou horta, para ali, cumprirem um ritual antigo, que era, tomarem banho em conjunto, desprovidos de qualquer peça de roupa, tal como vieram ao Mundo.
Na manhã do dia da inspecção, deslocavam-se á sede do concelho, Elvas, todos os nascidos, em Barbacena, e de todas as outras freguesias do concelho, que tivessem já completado os vinte anos, ou os fizessem durante esse ano; altos e baixos, gordos ou magros, tímidos e desinibidos, púdicos ou descarados, havia de tudo; nesse grupo de jovens sobressaía um conjunto de rostos muito brancos, que pouca luz solar, tinham apanhado, e que logo identificavam os meninos estudantes da cidade, em contraste com os moços de Barbacena, e outras freguesias rurais do concelho, com peles bem tisnadas do sol, nas caras e braços, dando a entender que eram rapazes do campo, como se dizia na cidade.

Todos pelados, e em fila indiana, iam sendo inspecionados, um a um, por um oficial médico, que depois de os pesar e medir, lhes examinava a boca, ouvidos, mãos e pés, e em voz alta, os classificava de aptos, ou inaptos. Quando a inspecção acabava, acompanhados de um acordeonista, e munidos de uma pandeireta cada um, regressavam á Vila, montados em carroças, tiradas por muares, pagando o respetivo frete, aos recoveiros da terra. No tempo em que o chapéu, era peça usada na indumentária dos homens, traziam os rapazes nele fixa, a fita repectiva, da classificação que tinham obtido na inspecção; em tempos mais recente, a respetiva fita, era colocada por eles, na lapela do casaco; convém aqui explicar a quem não saiba, que os apurados para o serviço militar, traziam uma fita vermelha; os reprovados, traziam uma branca, e os que transitavam para o ano seguinte, por falta de peso, ou por outra razão qualquer, traziam a fita verde. Durante dois ou três dias, festejavam-se as ´´sortes `` desse ano; nesse dia grande para eles, era também tradição naquela Vila, todos os mancebos estrearem fatos novos, assim como eram novas também, todas as outras peças de vestuário e calçado, que usavam no dia da inspecção. Para os banquetes desses dias era abatido um animal, ovino ou suíno, e que cujos pratos eram confeccionados, pelas mães, irmãs e namoradas de alguns dos futuros magalas.

Carlos Catalão Panaças,

Setúbal, Quarta Feira, 2018.07.11



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