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A FEIRA ANUAL DE GADOS, EM BARBACENA



ERA ASSIM, A FEIRA ANUAL DE GADOS, EM BARBACENA

Todos os anos, o ritual se repetia, no dia 8 de Setembro; o cenário, esse, era vasto, pois estendia-se pelos farrageais adstritos á Vila, por detrás da fonte e capela, do Bairro da Nazaré; desde manhã, muito cedo, que o estalejar dos foguetes, e o movimento inusitado de pessoas e animais de todas as espécies, pelas ruas da Vila, nos anunciavam que o quotidiano bonançoso e pacífico, da nossa ordeira terra, ia ser alterado, pelo menos, durante esse dia, enquanto durasse a tão propalada em todo o Alentejo conhecida, feira anual de gados de Barbacena.
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Vozearias que desde madrugada, se ouviam, entoadas em dialectos estranhos aos nossos ouvidos, denunciavam, que aquelas pessoas, vinham de sítios distantes, tentar transacionar os seus suínos, muares, asininos, bovinos, etc, àquele certame agropecuário, de renome na região alentejana. Extensas caravanas de ciganos errantes, vindos de paragens longínquas que desde a véspera, se haviam instalado em terrenos baldios nos arredores da Vila, mereciam por parte das forças da autoridade, que entretanto tinham sido reforçadas com efectivos, vindos de outros postos de terras vizinhas, vigilância redobrada, pois a experiência havida em anos anteriores, com aquela etnia, não era para eles, nada abonatória.

Com o gado todo instalado, na vasta área reservada para o efeito, começavam os negócios, liquidados naquela época, com ´´dinheiro vivo´ ´transportado pelos lavradores e negociantes de gado em grandes carteiras de cabedal, às quais, a gíria feirante, ´´baptizou´´ de ´´bezerras´´. Aqui, e ali, era frequente, ouvirem-se em altos gritos sonoras imprecações, emitidas pelos ardilosos ciganos, que, com as suas habituais ´´ lenga lengas´´, não tinham conseguido ludibriar o pacato ganadeiro, que se dispunha a adquirir, um jumento na feira.

Alguns animais diferentes dos exemplares das raças autóctones, da nossa zona, despertavam a atenção, de miúdos e graúdos, que tentavam aproximar-se o mais possível, dos bichos, para melhor, os admirarem e acariciarem.
Camionetas pejadas de suínos e ovinos, estrategicamente posicionadas, mesmo sem descarregarem os animais, exibiam para os interessados, a carga que os proprietários queriam transaccionar. Muitas manadas de gado, que entretanto tinham mudado de dono, começavam a penosa marcha com destino á herdade, do novo proprietário.

A garotada, alertada por uma nova e mais sonora, girandola de foguetes, iniciavam uma correria, em direcção ao castelo, onde estava a acontecer o ´´encerro´´ apeado, das reses, conduzidas, até ao recinto da ´´Cava´´ onde á tarde, seriam lidadas, na primeira, de três touradas, que integravam as festividades taurinas, da feira da Vila.

O renome alcançado pela feira anual de gados de Barbacena, no Alto Alentejo, durante muitas décadas, foi tal, que ainda hoje, o tão procurado almanaque ´´Borda de Água`` a ela faz alusão, no dia 8 de Setembro, de cada ano civil.

Carlos Catalão Panaças,
Setúbal, Quinta Feira, 12 de Julho de 2017
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