MINHA ESCOLA, MINHA AMIGA.
Minha
escola, minha amiga,
Luz de todo
o meu saber,
Nunca
poderei pagar-te
O que te
fico a dever..!!
Foste base,
e do saber, foste fonte.
Para quem,
estava a começar,
Por tal,
quando aí passo defronte,
Não passo,
sem me emocionar
Sofreu ao longo destes anos, que já são muitos, profundas
alterações, e é com alguma mágoa, que agora a vejo, cercada, com altas
vedações, como se de qualquer casa de reclusão, ou presidio, se tratasse-as
regras de segurança, assim o exigem. Ganhou um primeiro andar, e tem um vistoso
pavilhão gimnodesportivo, onde os seus alunos, e não só, praticam desporto;
contam-me, que as crianças que nela aprendem, usufruem agora, de uma cantina ou
refeitório, onde tomam as suas refeições; os jornais, rádios e televisões, já
por várias vezes vaticinaram o seu encerramento definitivo, por escassez de
crianças, que dela precisam, para aprender as primeiras letras e algarismos, o
que felizmente, não tem acontecido.
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A minha escola, era mais modesta, e menos vistosa do que a
versão actual; era um edifício térreo, com duas grandes salas de aulas, que
´´albergavam´´ cerca de uma centena de alunos, (só rapazes), distribuídos pelas
quatro classes, que constituíam o ensino primário obrigatório, na época; as
meninas, tinham uma escola separada dos rapazes, e que funcionava na Rua
Direita, no edifício da antiga Junta de Freguesia. A minha escola, era igual a
todas as outras escolas, que pelo País fora, exibiam a ´´traça´´ urbanística,
que o Estado Novo, escolheu, para os estabelecimentos de ensino. O horário
praticado na minha escola, era das nove horas, até ás dezassete, com um
intervalo de uma hora, para almoço; sentávamo-nos, dois a dois, em carteiras de
madeira castanha, que tinham os bancos incorporados, no móvel, onde
escrevíamos, e apoiávamos os manuais escolares; ao centro, tinha a carteira um
buraco, onde um tinteiro de porcelana branca, servia de depósito da tinta, na
qual nós embebíamos os afiados aparos, descartáveis, das canetas, com que
escrevíamos.
Para além dos livros e cadernos, em que fazíamos as cópias e
os ditados, nós usávamos, como acessório prático, a velha lousa, a que
vulgarmente, se chamava a´ ´pedra da escola´´, na qual se faziam as contas de
aritmética, e se resolviam, os intrincados problemas, utilizando o lápis,
também ele, tal como a pedra, feito de um pedaço de ardósia, o qual se
pressionava contra a pedra, onde riscava, desenhando os algarismos; lembro-me
hoje, da minha ardósia, quando vejo alguém, utilizar as modernas ´´tablets´
´electrónicas, ligadas á Internet, porque as semelhanças físicas de ambas, são
notórias.
Grande parte dos alunos, com menos possibilidades
financeiras, transportavam os livros e os cadernos, em sacolas feitas de
sarapilheira, onde por vezes, também, vinha um naco de pão, com minguado
conduto, para a merenda. Também tinha naquele tempo, a minha escola, um
terreno, plantado de olival, onde o professor, um beirão austero, na
disciplina, e no castigos, com que punia os alunos, menos atentos, tinha uma
horta, onde nos dava por vezes, algumas aulas de ciência da Natureza,
explicando-nos o ciclo de vida dos vegetais. A primeira coisa que fazíamos
quando de manhã, chegávamos ao interior da sala de aula, depois de saudarmos o
professor, com o braço direito estendido, era cantarmos, em uníssono, o hino
nacional, ritual, que era seguido de uma oração em coro.
Na parede, sobre o quadro negro, a ladear uma cruz de
madeira escura, onde um Cristo de metal, parecia contorcer-se em agonia, havia
dois grandes quadros, que emolduravam as fotografias de Salazar e Carmona, que
de ar sisudo, pareciam ralhar-nos, lá do alto, de quando em vez, ao fazermos as
nossas traquinices, na ausência do mestre.
Na minha escola, eu, e os meus companheiros, eramos
obrigados a decorar, para além da tabuada, todos os rios, e seus afluentes, as
serras dos vários sistemas orográficos do ´´vasto império Português´´ de então,
bem como as linhas e ramais dos Caminhos-de-ferro Portugueses. Algum erro na
escrita, ou resposta verbal, menos assertiva, á pergunta do professor, tinha
como sanção, algumas doridas reguadas nas palmas das mãos inocentes; era com
esta violência, (inconcebível nos dias que correm),que se ensinava, naquele
tempo.
A minha escola, tinha, em vez do moderno pavilhão, que agora
ostenta, um enorme telheiro, onde nos dias chuvosos, e durante o recreio, nos
abrigávamos, e na sua parte fronteira, tinha a minha escola, um lindo jardim,
com vários canteiros de flores, que eram tratados, pelos alunos mais velhos.
A minha escola, que não tinha as condições que os modernos
estabelecimentos de ensino, hoje têm, foi para mim, como para tantas dezenas de
rapazes da minha terra, a casa onde aprendemos as primeiras letras, e números,
que serviram para ´´abrir caminho´´ nesta dura caminhada, que é a vida; por tal
motivo, que não é assim tão pouco, quando vou a Barbacena, ao passar por ela,
comtemplo-a e cumprimento-a, ao passar pela minha escola.
Carlos Catalão Panaças
Setúbal, Sexta Feira, 13 de Julho de 2018
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