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Relicário de Cultura


RELICÁRIO DE CULTURA

Apesar de ter sido restaurado há relativamente poucos anos, mantém-se para ali, votado ao esquecimento, como de coisa inútil e obsoleta, se tratasse.

Foi preterido, como local de diversão e cultura, onde vários eventos, produzidos, realizados e apresentados, ali no seu interior, por gente de Barbacena, eram exibidos ao povo da terra, em dias de festa, mostrando assim, que naquela pequena., mas acolhedora casa, algo de muito útil, se fazia, em prol da sã convivência, entre as pessoas da população da Vila, melhorando o seu nível cultural. Sei eu, todos sabemos, que o velhinho “Depósito” de há poucos anos, para cá, tem um irmão, situado numa artéria das mais movimentadas da Vila, todo aperaltado, mais novo, mais espaçoso, com um nome pomposo (Multiusos) a condizer, e a fazer jus, às múltiplas actividades culturais, desportivas, lúdicas, e gastronómicas que lá dentro, são levadas a efeito; mas...perdoem-me o saudosismo serôdio; para mim, e para muitos naturais de Barbacena, o nosso ´´Depósito´ ´será sempre, um local do qual guardaremos as mais gratas recordações.
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Há pouco tempo, aproveitando o facto, de a porta estar aberta, por lá dentro, decorrerem pequenas obras de restauro, pedi licença, e entrei; no silêncio reinante, lá dentro, dei por mim, a recordar, momentos inolvidáveis, de acontecimentos, que fazem parte integrante, da actividade teatral, musical, e até circense, do velhinho depósito de cereais, como lhe chama, Margarida Sérvulo Correia, no seu livro, ´´O Caso de Barbacena´´.

Naquela breve visita, constatei, que depois da remodelação, embora tivesse ficado, na mesma, acolhedor, ficou diferente e estranhei; foi amputado, das suas lindas ´´frisas´´ e “galerias” foi pena, mas.. adiante...
Foi lá, que os habitantes na época, do aparecimento da "sétima arte" (cinema) puderam ver pela primeira vez, o cinema mudo, e mais tarde, já com películas "falantes", pudemos ver entre outros, os grandes épicos cinematográficos, da época, que faziam empolgar principalmente as camadas mais jovens, da Vila.
Foi no seu palco, que foram exibidas por várias vezes algumas rábulas do teatro de revista, trazidas até Barbacena, por várias companhias de teatro que zarpando do Parque Mayer em tournée pelo País, também escalavam o acolhedor ´´Depósito´´.
Espectáculos de ilusionismo, hipnotismo e outros números de circo, também, foram lá exibidos; Não existem certamente, registos, da intensa actividade cultural e recreativa, que as gentes da terra, em récitas bem ensaiadas, levaram à cena, em dias festivos, em tempos, já bem distantes, mas muitos barbacenenses, delas se lembrarão certamente.

Peças teatrais, como Inês de Castro, Amor de Perdição, Pupilas do Senhor Reitor, e outras extraídas de obras de autores Portugueses, ensaiadas por homens autodidatas, naturais da terra, foram ali exibidas; numas fases inicial, o então encarregado do Registo Civil de Barbacena, João António Pontes, encarregou-se de dirigir os artistas amadores, nas lides da linda "Arte de Talma", depois, numa fase mais recente, disso se encarregou o grande impulsionador, da arte de representar, em Barbacena; como certamente já inferiram, falo de Joaquim Unas, vulgarmente, conhecido na Vila, por "Quinzote", que numa das fotos que documentam esta publicação, aparece a contracenar, com uma das esperanças da época, na arte de representar, que é Ana José Miranda Ramalho; na outra foto Francisco Guerra Carvalho, faz parelha, com Manuel Joaquim Carvalho Catalão, numa récita que lamentavelmente, não conseguimos identificar; na boca de cena, escondido, na sua missão


de "ponto"estava sempre o também saudoso, José Carapinha Carvalho, vulgo "Zé da Luz", que tinha por missão acudir no momento em que o artista, que estava no uso da palavra se esquecia de alguma palavra, ou ´´deixa´ ´e relembrar-lhe o que tinha a dizer, ditando-lhe do guião que tinha em seu poder. E, nesta breve resenha, tentei contar um pouco da auspiciosa história do velhinho ´´Depósito´´ onde de há muito se deixaram de ouvir, as "pancadinhas de Molière", e que está para ali, votado ao esquecimento, como de coisa obsoleta, se tratasse.




Carlos Catalão Panaças.
5 de Abril de 2017










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