AURORAS.....DO FIM DO MUNDO.
Naquela distante noite de 25 de Janeiro de 1938, na taberna do Manuel Gaitas, ali à Rua Fria, em Barbacena, o assunto de conversa mantida pelos cinco ou seis habituais clientes, que ali se reuniam diariamente, para beber uns “tintos” e meter a conversa em dia, não eram as lavouras, a caça nem tão pouco, a mortífera Guerra Civil Espanhola, que bem perto da Vila, do outro lado da fronteira, continuava a ceifar vidas inocentes.
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O ambiente reinante naquele pacifico espaço de convívio, nessa noite, era de preocupação e receio; junto ao balcão, onde incidia a mortiça luz de um candeeiro alimentado a petróleo, dependurado de um roldana, presa ao tecto, -( a eletricidade, só deu chegada a Barbacena, em 1941.) O tema abordado por aquele grupo de conterrâneos, na conversa dessa noite, era um estranho fenómeno, que desde o pôr-do-sol, vinha alarmando o pessoal, especialmente as mulheres; enfim... toda a população, que pouco mais sabia, do que trabalhar, andava angustiada, e em polvorosa...
A igreja matriz, logo que o crepúsculo chegou, ficara cheia de fiéis, que temerosos, sem perceber o que realmente, estava a suceder, recorriam ao divino, pedindo protecção, para aquela situação inusitada, que classificavam de “fim do mundo”, e colocando pavios de cera, a arder, nos altares laterais do templo, junto aos santinhos, da sua eleição; alguns testemunhos de pessoas que viveram o acontecimento, diziam-nos, que a imagem do mártir S. Sebastião, que tivera a sua festa havia poucos dias, (20 de Janeiro), era a que mais velas, tinha em seu redor. No altar-mor, o padre Vitor, exortava os fiéis, a orar, e no seu sermão, evocava que na Sagrada Bíblia, mais concretamente, no Livro de S. Ezequiel, era mencionado um fenómeno similar aquele, que estava a acontecer em Barbacena, cobertas com negros xailes, algumas mulheres, rezavam em surdina, isolados dos grandes centros, pois de televisão, ainda nem tão pouco se falava ainda, e não existindo ainda, energia eléctrica, por cá, pois ela só foi implementada nesta zona, em 1941, logicamente, que a rádio, era também, uma miragem; apenas uma velha e rudimentar galena, propriedade do professor Mantas Viegas, que lecionava na escola da freguesia, em dias em que as condições climatéricas permitiam, recebia algumas notícias os jornais “O século” e o “Diário de Noticias “editados em Lisboa, só chegavam à recentemente inaugurada Casa do Povo local, quase quarenta e oito horas depois de serem editados. A população, estava entregue á sua sorte, e ao isolamento, causador de uma angústia perturbante.
Mas...falemos então, do motivo causador da preocupação de tanta gente, que dias mais tarde, se veio a saber, ser extensiva a toda a Europa; iluminando todo o espaço celeste, dois enormes arcos de luz multicolor, causavam estranheza e medo, àquela hora avançada da noite, e podia ver-se, como se fosse dia.
Os tais amigos, que tínhamos deixado preocupados, na taberna do Manuel Gaitas, talvez, com intenção de arranjarem uma justificação plausível, no seu entender, para tudo aquilo, sugeriam uns aos outros, as mais díspares justificações, para o aparecimento, daquela luminosidade intensa, reflectida no espaço celeste; dizia um, de apelido Ameixa, levantando o tom de voz, como se fosse dono da verdade:
-Isto é um barco, que está a arder, no mar, e como é de noite, o clarão, é visto muito longe..!!
Outro, ainda, parecendo ser mais comedido nas palavras, alvitrava, que talvez fossem as tropas do Generalíssimo Franco, a testar alguma arma nova, na Guerra Civil de Espanha.
Depois de uma noite passada em sobressalto, e à espera do iminente juízo final, quando o novo dia foi lentamente surgindo no horizonte, o medo foi-se desvanecendo, pois a luz multicolor, foi desaparecendo, e aquela boa gente sossegou.
A justificação daquele fenómeno, e para todo aquele alarme aparatoso, só dias mais tarde, se veio a saber, por parte dos cientistas, que estudam estes raros acontecimentos; chamava-se aurora boreal, ou seja, enormes cortinas de luz intensa, provocados por ventos polares; estes espectáculos de luz, são frequentes, nas regiões vizinhas dos polos.
Nota importante: Toda esta descrição, é baseada em factos, que me foram transmitidos oralmente, por pessoas infelizmente já falecidas, que presenciaram este estranho acontecimento; alguns pormenores mais técnicos, que me ajudaram a ultimar esta publicação, foram por mim, pesquisadas no acervo da Internet.
Carlos Catalão Panaças
Barbacena, Terça-Feira, 18 de Agosto de 2020, às 09H22PÁGINA INICIAL
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