ESCULTORES SEM DIPLOMA
Não usavam buril, nem tão pouco, o cinzel, ferramentas, essas que alguns desses anónimos artistas, nem sabiam existirem, no entanto, o resultado final das suas obras, eram autênticos objectos de arte, esculpidos pelo afiado bico, do tão propalado canivete alentejano.
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Os artefactos que as figuras que anexo, representam, são apenas uma pequena resenha, das inúmeras peças, que estes artistas anónimos, produziram, e alguns dos quais, nem a escola primária frequentaram, não tendo portanto, a mais elementar aprendizagem, na área de trabalhos manuais, ou da educação visual. O termo autodidata adequa-se com toda a propriedade em relação a estes artesãos, que deixaram gravados nos mais diversos materiais que a Natureza colocava ao seu dispor, como a cortiça, madeira de sabugueiro, pau-bucho, freixo, álamo etc. etc., o rigor da sua arte. Utilizavam também estes versáteis escultores, os chifres do gado vacum, para habilidosamente, fazerem algumas peças de vasilhame, de que necessitavam para o uso culinário do seu quotidiano, aproveitando para decorarem essas mesmas peças utilitárias, com lindos lavores, que em nada, ficavam a dever aos produzidos nas escolas de ´”Belas Artes`” das escolas da especialidade.
Muito antes de as herdades alentejanas estarem cercadas - como agora estão -, era frequente, vermos o mansos rebanhos, pastoreando nos poisios e bamburrais, sob a vigilância do pastor, que acompanhado do seu cão, se sentava no valado ou nos marcos de pedra, que demarcava a herdade, e se entretinha de canivete em punho, a esculpir artisticamente, os diversos materiais, gerando lindos objectos, que a sua prodigiosa mente, lhe ia ditando; artefactos como cornas, tarros, cágadas, castanholas, azeiteiros, canudos para protecção dos dedos das ceifeiras, etc.etc.,
As mãos hábeis desses mestres autodidatas, que enquanto vigiavam os rebanhos, iam produzindo autênticas obras de arte, que enriquecem hoje, as galerias de alguns museus alentejanos, estando também algumas outras, na posse de familiares desses mestres, cujos nomes, não figuram infelizmente, nos quadros de honra, das escolas de Belas Artes.
Em Barbacena, num passado bastante recente, existiram alguns desses pastores artistas; hoje, ainda por cá residem, alguns, embora o seu número seja bastante residual.
Barbacena, 22 de Agosto de 2018
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