OS REVENDÕES
Era por este nome, (revendões) que eram conhecidos, aqueles homens, que vinham à Vila, negociar os produtos hortícolas, produzidos por eles próprios, nas hortas, situadas “fora de portas”.
Traziam de tudo um pouco, e naquele tempo, em que não se falava tão pouco, em produtos biológicos, aqueles, transacionados por estes hortelões, que em simultâneo, era também vendedores ambulantes, poderiam certamente exibir essa classificação, porque eram realmente cultivados, sem ajuda de qualquer aditivo, prejudicial à saúde humana;
ler maisfaziam-se transportar nas suas carroças, puxadas, por burros, ou muares, e traziam de tudo um pouco, daquilo que produziam, nas suas pequenas produções familiares.
Vindos de mais longe, também escalavam Barbacena, outros revendões, que se deslocavam dos arredores de Elvas, Campo Maior, Monforte e Arronches, para além das frutas da época, e das hortaliças, vendiam galinhas, coelhos vivos e ovos, e em contrapartida, compravam eles, ferro velho, e antiguidades.
Toda a gente os conhecia, pelos respectivos nomes, ou pelos cognomes ou anexins, com que o povo da Vila os ia apodando, e os dias da semana, em que cada um destes negociantes escalava a nossa terra, para negociarem, com as freguesas que já eram certas. A par de alguns mais tímidos e reservados nas conversas, havia outros que contavam histórias, algumas das quais - embora carecendo de alguma veracidade -, animavam as conversas, que intervalavam, com o intercâmbio dos produtos que traziam e levavam.
Um belo dia, apareceu na Vila, como estreante, um desses tais, que, falando em demasia, tentava através da conversa, dar a entender, que aquele tipo de negócio, era “canja” para ele. Como era a primeira vez, que parava cá, alguns freguesas que o abordaram, numa das entradas da Vila, tentaram familiarizar o novo vendedor, com os usos e costumes, praticados, nas relações comerciais, costumeiras, entre clientes e vendedores. Um dos alertas que lhe transmitiram foi que naquela terra, era hábito, apodarem os forasteiros, ou seja: colocarem anexins às pessoas (alguns, bem pouco abonatórios, por vezes), recomendando-lhe também que quando entrasse mais para o centro da povoação, que tivesse cuidado, senão, sairia dali, logo, com um “nome” novo. Resposta pronta, do negociante, recém-chegado a Barbacena:
- A mim, não me deve com certeza, pertencer nenhum desses nomes, porque eu, «Vou de Roda..!!»
O pobre homem ditou ali, naquele momento, o seu próprio epiteto; na semana seguinte, quando voltou a Barbacena, até já crianças gritavam: já chegou o “vai de roda”...!!»
Este episódio vem de certa maneira, dar uma certa justeza, àquele chavão, que dita: no Alentejo, toda a gente, é baptizado!
Setúbal, 2018.
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