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O bate estradas

«O BATE ESTRADAS»


39750186_450852898756999_4368796761616023552_nEm Barbacena, era a Junta de Freguesia, que os facultava, às famílias dos militares, mobilizados para as três frentes do conflito.
Eram impressos, tipo carta, constituídos por uma folha de papel, com o peso máximo de três gramas, dobrável em duas partes, de modo a que as dimensões, não excedessem o limite máximo de 150x105 mm.
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No ângulo superior direito, o mensageiro amigo, tinha a seguinte inscrição: “correio aéreo, isento de selo e sobretaxa», em baixo, um aviso: «É proibido incluir, qualquer objecto, ou documento».
O depósito no correio era feito em qualquer estação ou posto dos CTT e o seu transporte, era feito por via aérea. Ao Movimento Nacional Feminino, foi atribuída a responsabilidade da impressão e distribuição dos aerogramas, que estavam isentos de franquia. Os primeiros eram impressos em papel azul, pálido, mas mais tarde, apareceram, outros, de cor amarela, que eram exclusivamente utilizados no sentido Ultramar - Metrópole, enquanto os de cor azul, garantiam o correio no sentido Metrópole - Ultramar.
O aerograma foi lido à mesa do rico e do pobre, passou por cadeias, hospitais e conventos foi lido por vizinhos solidários, que os liam aos pais analfabetos, dos militares combatentes, saciando assim, com esse gesto amigo, a avidez, que os mesmos, tinham de boas notícias, dos seus entes queridos. Correu o Mundo, esse papel fino, desdobrável, que nasceu, e foi criado, para ser um arauto andarilho. Para além das letras, muitas vezes esborratadas, pelos salpicos inevitáveis das lágrimas descuidadas, neles eram inscritos e desenhados lindos poemas de amor, e figuras, que expressavam os mais diferentes, estados de alma.
Garantiam estes aerogramas, a correspondência entre os militares, e as suas famílias, amigos, namoradas e madrinhas de guerra; o fornecimento dos mesmos, aos interessados, nas diferentes freguesias, era assegurado pelas próprias autarquias.
Dobrados sobre si mesmos, levavam até aos confins da densa e luxuriante mata, ao interior da savana, e do sertão, ou mesmo aos doentios pântanos da Guiné, desde a trivial notícia, como o recado do pai, dizendo ao militar, que o poço do lameiro não tinha secado esse Verão, até á arrebatadora mensagem, de que a mãe ou o pai tinha falecido. Guardavam sonhos e promessas de amor, outras vezes, transportavam no seu interior, desilusões, medos, fantasmas, fins de namoros, a morte de um ente querido.
Enfim, todas as notícias, levava no seu bojo, aquele pedaço de papel dobrado, a que o militar, carinhosamente, chamava de «bate estradas». Era ele, o único elo de ligação, ente a quente, e distante África, e o cantinho mais recôndito de Portugal continental, ou insular.
Em qualquer ponto de África, onde houvessem militares, chegavam os aerogramas, muitas vezes, trazidos pelos ares, através dos pequenos aviões militares ´´Dornier´´, vulgarmente conhecidos por D.O.
Foto Aurélio Sobreir   CORREIOSó  quem assistiu, a uma chegada do correio, a uma unidade militar, poderá aquilatar, de quanta emoção, envolvia o normal abrir de um aerograma. Os gritos, e a exultação e de alegria de uns, contrastava e misturava-se com o choro e o soluçar de outros, cujas missivas, não traziam no seu seio, noticias animadoras.
Apesar da morada militar, ser definida por um código, O chamado SPM (Serviço Postal Militar), a entrega do correio, nunca falhou, mesmo tendo em conta, em média de dez toneladas de correio, por dia, que o SPM, tratava e enviava.
O indicativo postal era composto, por quatro dígitos: o último algarismo da direita definia a província ultramarina, a que pertencia. Angola tinha o algarismo 6, Moçambique tinha o 4, e a Guiné, tinha o 8, tornava-se mais fácil, saberem os serviços, para onde, se destinava o aerograma; mas, o correio militar não levava ou trazia, só aerogramas; algumas encomendas, como bolos de S. Sebastião, nozes e passas de figo, na época da festa de Todos os Santos, uns queijos, e uns enchidos, também chegavam pelo SPM, mais céleres que o actual correio azul.
Sei de um sótão, onde religiosamente, estão guardados algumas centenas de ´´bate estradas´´, que albergam no seu bojo, muitas emoções, causadoras de muitas lágrimas, e saudades.

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Barbacena,  21 de Agosto de 2018

Fotos de Carlos Catalão Panaças e do acervo da net.



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