Chamavam-se João Carriço, depois o enfermeiro José Rosado Valentim, e por o último o proprietário de um café que se chamava Carapinha; esses cidadãos exemplares e impolutos, que em épocas diferentes e bem difíceis, desempenharam o honroso cargo de regedor. Até à última regulamentação sobre a actividade estatutária dos regedores, ocorrida em 1940, substituía esta figura, criada no tempo da monarquia, outra qualquer força de autoridade, tendo inclusivamente, autoridade, para dar voz de prisão, a qualquer criatura que infringisse a Lei.
Enquanto exerceu a actividade de regedor, residiu sempre o Sr. Carriço, na Rua de S. Francisco, onde em simultâneo, com a honrosa missão de defensor da Lei e da Grei, trabalhava na profissão de sapateiro. Dava gosto ver o sapateiro Carriço, entre o palmilhar de um par de botas de atanado e a entrega de uma intimação a qualquer cidadão, desafiar o forneiro Joaquim Carvalho, que lá ao fundo da mesma rua de S. Francisco, tinha um forno comunitário, para em conjunto, irem até á taberna do João Canhinhas, degustarem o recheio do barril de tinto, que acabara de chegar da adega Padre Eterno, de Borba. Os códigos gestuais utilizados por ambos eram bem interpretados, e tornavam-se engraçados.
Para dissertar sobre esta prestimosa figura que foi o regedor, e das diversas situações, algumas embaraçosas, que o mesmo teve que resolver, e das quais eu, me lembro, não chegaria um livro; para reforçar a boa impressão que as figuras que exerceram a actividade cívica que foi ser regedor em Barbacena, vim a saber hoje, quando fazia a recolha de dados para poder executar esta publicação, que o titular daquele cargo, não auferia, qualquer remuneração. Naquele tempo, era assim; servia-se a sociedade, a Lei e a Grei, em troca de nada.
Carlos Catalão Panaças
Setúbal, Agosto de 2018
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