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O REGEDOR, ESSA FIGURA IMPAR

regedor 1Já não os conheci fardados, de casaca azul, com um ramo de carvalho bordado a ouro, em cada gola, colete de caxemira branca, calças azuis, botas pretas, e chapéu preto, redondo, de onde pendia uma presilha preta, onde estava gravado o nome de Barbacena; pois era assim o seu uniforme, que por norma, tinham que usar, mas lembro-me bem, dos últimos titulares deste cargo administrativo, na minha terra natal.
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Chamavam-se João Carriço, depois o enfermeiro José Rosado Valentim, e por o último o proprietário de um café que se chamava Carapinha; esses cidadãos exemplares e impolutos, que em épocas diferentes e bem difíceis, desempenharam o honroso cargo de regedor. Até à última regulamentação sobre a actividade estatutária dos regedores, ocorrida em 1940, substituía esta figura, criada no tempo da monarquia, outra qualquer força de autoridade, tendo inclusivamente, autoridade, para dar voz de prisão, a qualquer criatura que infringisse a Lei.
regedor 2Era este agente da ordem pública, que regia a justiça, e superentendia, no dirimir de quezílias de pouca monta, e que exigiam uma resolução imediata; intimava os mancebos em idade do serviço militar obrigatório, que se tinham que apresentar nos respectivos quartéis, onde iriam cumprir, aquele dever cívico, fazia o regedor também entrega de contra-fés, e outras notificações, provindas de instituições oficiais, como tribunais, câmaras municipais, e demais organismos oficiais.
Enquanto exerceu a actividade de regedor, residiu sempre o Sr. Carriço, na Rua de S. Francisco, onde em simultâneo, com a honrosa missão de defensor da Lei e da Grei, trabalhava na profissão de sapateiro. Dava gosto ver o sapateiro Carriço, entre o palmilhar de um par de botas de atanado e a entrega de uma intimação a qualquer cidadão, desafiar o forneiro Joaquim Carvalho, que lá ao fundo da mesma rua de S. Francisco, tinha um forno comunitário, para em conjunto, irem até á taberna do João Canhinhas, degustarem o recheio do barril de tinto, que acabara de chegar da adega Padre Eterno, de Borba. Os códigos gestuais utilizados por ambos eram bem interpretados, e tornavam-se engraçados.
regedor 3Quando em 1979, foi definitivamente extinta a figura de regedor, no quadro administrativo nacional, ocupava em Barbacena, o referido cargo, o Sr. Carapinha, proprietário de um café, na Rua Dr. José Sequeira, cargo esse, exercido durante muitos anos, pelo também enfermeiro da casa do Povo, Sr. José Rosado Valentim, homem oriundo da Guarda Nacional Republicana, o que lhe permitia, resolver com alguma facilidade, algumas questiúnculas, que por vezes lhe eram apresentadas. Resoluto e decidido, por natureza, foi o regedor Rosado Valentim, protagonista de alguns acontecimentos, que ainda hoje, se contam lá pelas tertúlias, na Vila, quando disso, alguém se lembra.
Para dissertar sobre esta prestimosa figura que foi o regedor, e das diversas situações, algumas embaraçosas, que o mesmo teve que resolver, e das quais eu, me lembro, não chegaria um livro; para reforçar a boa impressão que as figuras que exerceram a actividade cívica que foi ser regedor em Barbacena, vim a saber hoje, quando fazia a recolha de dados para poder executar esta publicação, que o titular daquele cargo, não auferia, qualquer remuneração. Naquele tempo, era assim; servia-se a sociedade, a Lei e a Grei, em troca de nada.
Carlos Catalão Panaças
Setúbal, Agosto de 2018




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