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 SE NADA MAIS SOUBERES AO MENOS
CONHECE A HISTÓRIA DA TUA TERRA


Humor Fardado

HUMOR FARDADO

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Quando há alguns meses durante mais um encontro do pessoal que comigo, cumpriu o serviço militar, me foi oferecido pelo autor, Bernardo Mendes, que como alferes, pertenceu há minha companhia, em Angola, e que mais tarde ingressou na GNR, onde atingiu o posto de coronel, o seu último livro ´´Estórias `´,lancei um breve olhar, sobre o conteúdo da obra, e constatei que as narrativas, eram na sua maioria, baseada em situações caricatas, ocorridas com elementos da Guarda, e causadoras de umas boas risadas, porque contam situações inopinadas, estranhas, e dignas de serem lidas.

Depois de lhe agradecer a oferta, disse ao meu ex-alferes Bernardo Mendes, que, naquele livro, faltava uma, dessas ocorrências, cujos actores principais, eram também elementos daquela força da ordem, e também ela, merecedora de ser publicada, num livro, como o “Estórias”; de seguida contei-lha, e dispus-me a conta-la aqui, nem que para isso, eu tenha que fazer serão; vamos a isso:
Convém dizer-vos, que a inusitada e rocambolesca ocorrência, me foi contada, por um dos protagonistas, da mesma, que foi soldado da GNR, e natural de Barbacena, do qual vou omitir o nome, por respeito à sua memória, pois, já faleceu, mas.. vamos à história, ou estória, como queiram:
Naquele tempo, (anos sessenta do século passado), durante os meses de Verão, não havia lugarejo, aldeia ou vila, lá pelo Alentejo, que não tivesse as suas festas, como aliás ainda hoje, ocorrem, em algumas localidades, embora com outros moldes, e com outras atracções.
Naquela época, as festas das aldeias, embora tivessem um cariz mais religioso do que na actualidade, mas não podia também, faltar nelas, a vertente pagã, e os arraiais e os espectáculos taurinos, esses, não podiam faltar, nos programas; em redondéis improvisados, feitos á pressa, com carroças, reboques e galeras, os mais afoitos, mostravam os seus dotes de diestros e forcados, e não raramente, darem trabalho, às equipas de socorro, que de prevenção, estavam de alerta para os transportar aos hospitais mais próximos, quando eram colhidos. Para todos estes espectáculos eram escaladas várias patrulhas do GNR, com a finalidade de manter o bom ambiente de festa, sem que a lei e a ordem, fossem alteradas; os efectivos dos postos das localidades, que viviam os festejos, nas maioria dos casos, não chegavam para as situações especiais desses dias; por tal motivo, eram solicitados reforços dos outros postos, cujas localidades não tinham naqueles dias, festejos.
Segundo me contava o meu patrício, protagonista e narrador desta peripécia, hilariante, naquele fim-de-semana, era a linda freguesia de Santo António das Areias, perto de Marvão, que estava em festa; ao posto de Santa Eulália, chegou a requisição de um elemento, para reforçar o posto daquela aldeia, do norte alentejano; quis o desígnio do acaso, ou a ironia do destino, que fosse escalado para essa missão, sim..!! ele mesmo..!! o meu patrício; e lá apanhou o comboio com a sua fiel “Mauser”, a tiracolo, e foi apresentar-se ao sargento de Santo António das Areias.
Quando chegou a hora aprazada para a tourada à vara larga, o GNR barbacenense, foi destacado para esse espectáculo, e por ser o mais antigo elemento da patrulha, foi indigitado para comandar a mesma; o outro elemento nomeado era o soldado “28”, sobejamente conhecido na região, pelos modos pouco ortodoxos, como resolvia certas ocorrências, que se lhe deparavam; era o soldado “28” um individuo extrovertido, amigo da rambóia, e que não acatava de bom grado, a duríssima e aberrante disciplina, que naquela época, reinava nas forças militares e suas congéneres.
Chegados ao local da tourada, o meu patrício ordenou ao seu colega “28” se instalasse numa carroça, que ficava diametralmente oposta àquela onde ele próprio ficaria.
Tudo decorria normalmente, até á saída à arena, da terceira rês, que por acaso, era um corpulento touro, de má índole, que logo à saída dos curros, fez esgarnacha, dando trabalho aos bombeiros, que servindo-se de uma só ambulância, tinham que levar vários feridos, de uma só vez, rumo ao hospital de Portalegre; quando já, estava tudo a postos, para que o bravo animal fosse recolhido para os curros, quando já, como de costume, nestes casos, uma nota de mil escudos, flutuava ao vento, na ponta de uma cana, empunhada por um aficionado endinheirado, que a entregaria ao valente que pegasse, a fera; tudo parecia resignado, e os espectadores preparados para que o touro não fosse pegado, quando o imprevisto, aconteceu; contava o meu patrício, que não queria acreditar, na situação insólita, que via; de espingarda cruzada sobre as costas, com a “bandoleira” da mesma, enfiada no pescoço, o seu camarada “28” passeava pelo redondel, “fechado na corna” do cornupeto; depois de ajudado a sair da difícil situação que tinha criado, foi todo ufano, receber os aplausos dos aficionados, e de caminho, recebeu também, a nota de mil escudos, que em seu entender, tão valentemente, soube merecer.
Depois de umas azedas palavras havidas entre os dois colegas, ficou decidido, entre eles, que nem uma palavra sobre o inesperado acontecimento, junto do pessoal do posto, seria proferida. Mal sabiam eles, que a notícia lá chegou, muito antes de eles lá chegarem, e quando o comandante da patrulha, apresentava o serviço prestado na tourada, como se nada lá, tivesse acontecido, foi severamente admoestado pelo comandante do posto, que momentos antes, tinha recebido um telefonema do comandante distrital de Portalegre, ameaçando com sanções pesadas, o indisciplinado “28”.
A narrativa do meu conterrâneo, terminava, com um epílogo, que confesso, poucos acreditariam que acontecesse; pouco antes de apanhar novamente o comboio, para regressar a Santa Eulália, o comandante da famigerada patrulha, e meu conterrâneo, foi intimado pelo conciliador sargento, comandante do posto de Santo António das Areias, para assinar uma participação- relatório, onde era feito um auto noticia ao Comandante de Portalegre, que dizia em linhas gerais o seguinte:
Hoje, durante a tourada das festas desta freguesia, e quando estava a ser lidado um bravo touro, uma criança que assistia ao espectáculo, caiu desamparada à arena, correndo perigo iminente de ser colhido pela rês; eis que o soldado fulano.. nº 28 elemento deste posto, ao ver a criança, quase a ser atingida pelo perigoso animal, tomou a decisão de pegar o mesmo, em cujo acto foi coadjuvado, por populares, que viram no acto deste elemento da guarda, um acto destemido e heróico.
Mesmo, mesmo a terminar, também soube durante a narrativa do meu patrício, que dias mais tarde, saiu na ordem de serviço, do comando distrital da GNR, um bem elaborado louvor, atribuído ao extrovertido “28”, que recebeu também a medalha dos serviços distintos.
Moral da história: Com uma boa argumentação, acompanhada de uma boa redacção, pode-se de um momento para o outro, passar-se de besta a bestial; todavia, o inverso, também é possível.
Setúbal, 11 de Janeiro de 2019
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