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Motim ou Excesso de Zelo

MOTIM, OU EXCESSO DE ZELO?

52427950_556225764886378_600151160547966976_nNaqueles últimos dias de Fevereiro e os primeiros de Março, do ano de 1960,quando o Mundo recuperava ainda, da terrível tragédia, que ocorrera no pretérito dia 25 de Fevereiro último - ou seja o destruidor tremor de terra, que reduziu a escombros, a velha cidade de Agadir, no norte de Marrocos -, em Barbacena, Vila do Alentejo, festejava-se o Rei Momo, ou seja o Entrudo, festejos esses, que consistiam nos tradicionais bailaricos de rua, dispersos por várias lugares da Vila, pois os bailes familiares, nas casas, em cujo agregado haviam moças solteiras, eram realizados durante as noites que antecediam os três dias consagrados ao Carnaval, propriamente dito.
Magotes de populares, assistiam animados, aos “ensaios” que mais não eram do que o desfile de pessoas mascaradas, que iam representando quadros de sátira, os quais criticavam alguns habitantes da terra, que durante o ano se tinha deixado enredar em algumas situações, menos aceitáveis pela comunidade.
Alguns pares de namorados, e não só, tinham iniciado havia alguns minutos, uns passos de dança, ao som de uma velha concertina, que desordenamento tentava tocar uma canção muito em voga, naquela época. O cenário do pacato e alegre bailarico, era o velhinho bêco, que fica adstrito à Rua do Forno, ali na zona central da Vila.De uma das ruas que dão acesso, ao dito pátio, surgiu uma patrulha de dois elementos, apeada, que, com ar de “poucos amigos”, mandou dispersar os pares dançantes, bem como, os assistentes, pondo desta forma pouco amistosa, fim ao baile. Alegavam os zelosos representantes da lei, que aquele tipo de diversões, não estava autorizado.
52143637_556225861553035_8862444756488159232_nDepois de algumas alegações em tom altercado, por parte de alguns jovens, que não aceitaram de bom grado, o fim inesperado do bailarico, e perante a irredutível decisão dos homens da GNR, gerou-se um ambiente de conflito e desordem, que terminou com a detenção de cerca de uma dezena desses tais jovens, todos eles com menos de vinte anos de idade, que no dia seguinte, foram presentes a um juiz, no tribunal de Elvas, acusados dos crimes de motim e alteração deliberada da ordem pública.
Barbacena, esteve durante dois dias sob o regime de “estado de sitio”, e parecendo alinhada com a situação especial e inusitada vivida na pacata localidade, a então Hidroeléctrica do Alto Alentejo, cortou a iluminação pública das ruas da Vila. As ruas eram patrulhadas, por viaturas equipadas com auto- metralhadoras, nunca antes, por lá vistas.
Lembro-me eu, e lembrar-se-ão, algumas das pessoas que irão ler esta triste descrição, de mais uma página pouco animadora da história local, ocorrida, num passado relativamente recente, que os pobres, ordeiros e pouco letrados jovens, foram condenados a penas de prisão, em forma de penas suspensas.
Para além do pároco local, Revº Pde. Luis Nunes da Silva, compareceram no tribunal vários latifundiários da zona, que como testemunhas abonatórias dos rapazes, conseguiram que as penas de prisão não fossem consideradas efectivas, e desta forma conseguirem, que os réus, ficassem livres, para exercerem nas suas herdades, os trabalhos, que até ali desempenhavam todavia, aquela decisão judicial, manchou indelevelmente, os registos criminais dos intervenientes na contenda, comprometendo assim, as aspirações de gente tão jovem, que queria arranjar postos de trabalho mais condigno, que não fosse o duro e mal remunerado trabalho do campo.
Alguns deles, felizmente ainda vivos, lamentam-se ao fim de tanto tempo, por terem sido punidos, sem que para tal tivessem contribuído, com alguma atitude mais reprovável.
Já noutra época, em 1898, também na Vila de Barbacena, o povo foi acusado, de crime de motim, tendo sido presos vários chefes de família, quando tentavam obstaculizar a usurpação das terras agrícolas, que lhes pertenciam, por parte de um senhor feudal da zona conclusão: Em diversas épocas da história desta pobre terra, a chamada justiça, “funcionou”, como ainda hoje, funciona.
A terminar, digo, que fui testemunha presencial, de todo este incidente, que narrei, e que ocorreu durante um bailarico, no ano de 1960, pois já contava nessa data, os meu 14 anos, de idade.
51890413_556225438219744_1809096828449193984_n52126847_556225514886403_7538798701297270784_n     Setúbal, 13 de Fevereiro de 2019,

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