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Tradicional Chocalhada

O SÁBADO DA ALELUIA E A TRADICIONAL CHOCALHADA



ViewImage6Ensinaram-me, durante aqueles quatro anos de catequese, que frequentei, enquanto aluno da escola primária, lá pela minha terra de origem, que o sábado que antecede o Domingo de Páscoa é chamado de Sábado da Aleluia. Naquele tempo, inexplicavelmente, festejavam-se as aleluias, ou seja a ressurreição de Jesus, no sábado, como se o Mestre tivesse ressuscitado nesse dia. Mais tarde, em 1962, com a realização do Concílio Vaticano II, a Igreja mudou substancialmente, alguns dos seus dogmas e procedimentos, e, tudo se alterou.
Em Barbacena, nesse sábado que era a véspera da “Festa das Flores”, como então era chamada a Páscoa, por lá, quando a manhã rompia, magotes de gaiatos, que naquela época festiva não tinham aulas escolares, visto estarem a decorrer as férias pascais, munidos de enormes chocalhos, e comandados por um dos mais velhos do grupo, chocalhavam ruidosamente, pelas ruas da Vila, parando estrategicamente, junto a algumas portas, das casas das famílias mais abastadas, de onde era suposto, advirem algumas recompensas, em forma de amêndoas e rebuçados, ou ainda algum naco de pão, recheado com queijo ou enchidos de carne de porco, ou mesmo outros mimos, para a criançada. À porta das igrejas, também se fazia ouvir o pouco afinado concerto de “mangas” “sanfarros” e “picadeiros”designações essas, dadas aos diversos tipos dos clássicos e enormes chocalhos alentejanos. Entretanto, alguns caçadores locais, disparavam para o ar, salvas de tiros, com cartuchos desprovidos das cargas de chumbo, no sentido de evitar acidentes.
52382650_555124041663217_1367145836152094720_nLogo que a arruada era dada por concluída, era feita uma selecção de entre os elementos do grupo, pelo chefe da revoada, e os mais velhinhos e resistentes, que pudessem aguentar a dura caminhada, eram escalados, para ir dar as aleluias, aos montes das herdades, sitas nas redondezas. Também ali, nas propriedades agrícolas, entre as quais destaco FontÁlva e Quinta do Chichorro, de cujas frontarias dos palacetes, anexo fotos, nos eram feitas oferendas de comedorias de pão queijo e carne. Quando chegávamos a casa, vínhamos exaustos de tanto caminhar por caminhos de cabras, mas reconfortados, por termos cumprido, mais uma arruada do Sábado da Aleluia.
Alguns desses meus companheiros, que comigo tocaram os chocalhos, cumprindo a secular tradição, que foi extinta, depois do Concilio Vaticano II, fazem felizmente, também, ainda hoje, parte da minha “carteira” de amigos, aqui, neste meio de comunicação virtual, são eles : Manuel Catalão Carriço, João António Cachucho, Leandro Tiago, José Capitão, Manuel Cordeiro, José Sainica, Manuel Pernas, António Luís Rolhas, José Valentim, Belchior Rolhas, Sebastião Panaças, Chico Cachucho, José Belchior, João Arraia, João Carapinha, Joaquim António Derreado, Manuel Ganhão, Pedro Sengo, Fernando Arraia, Manuel Caras-Altas Ganhão, Joaquim Ganhão Rolhas, João Carriço, Higino Maroto, António Panaças, José Fialho, Paulo Henrique Silva, Joaquim Francisco Panaças, Luís M. Carvalho Laço, José Guerra, e tantos outros, que já partiram; para eles todos, vai o meu abraço, e o meu lamento, devido ao fim inexplicável de uma tradição biblíaca à qual, um dia, alguém, num Concilio papal, resolveu por termo.


Carlos Catalão Panaças

Setubal, Sábado (da Aleluia) 20 de Abril de 2019,ás 10H29
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