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 SE NADA MAIS SOUBERES AO MENOS
CONHECE A HISTÓRIA DA TUA TERRA


Uma Heroína Sem Estátua

UMA HEROÍNA, SEM ESTÁTUA

sin-tc3adtulo-7  eeeePor ser a mais velhinha, daquela prole de muitos irmãos, coube-lhe a ela, “Joana”(nome fictício),a difícil e precoce missão, de ajudar a mãe doente, a cuidar dos irmãozinhos, mais novos, a quem carinhosamente, “Joana”, chamava de «meus meninos».
Das difíceis tarefas caseiras, e de zelar pelos irmãos, ficara ela incumbida, ainda muito jovem, desde que fora detectada a grave doença da sua progenitora.
Na ribeira que corria junto a exígua e paupérrima casa, onde a numerosa família, habitava, lavava a nossa jovem protagonista desta história verídica, a roupa de toda a família, durante os escassos lapsos de tempo, de que dispunha, quando regressava do trabalho de campo, na herdade onde o pai, exercia a actividade de vaqueiro.

Joana” nunca teve o privilégio de por apenas uma vez que fosse, ter entrado numa escola, para aprender as primeiras letras, só conheceu esse ambiente, quando tinha que acompanhar algum dos seus irmãos, para tratar de algum assunto, junto dos responsáveis pelo ensino, que precisasse do seu aval: assim ficou iletrada, sem tão pouco ficar a saber desenhar as letras do seu próprio nome.
Nunca tivera “Joana” ensejo, de poder gozar a sua infância, como as crianças da sua idade, tiveram, nem tão pouco, soube o que seria usufruir, dos efémeros devaneios da adolescência.

52546747_559546821220939_522036584585887744_nFoi esta jovem, o exemplo cabal, daquilo a que com propriedade, se pode chamar, de verdadeira entrega, àqueles, que sendo mais frágeis, dela precisavam.
Apesar da sua pouca idade, tinha ela, brio e esmero, nas tarefas que exercia, e o denôdo com que desempenhava interinamente, o lugar de dona de casa, substituindo a pobre mãe, fizeram dela, uma autêntica mulher de armas.

Um belo dia, quando “Joana”, já mulherzinha, se apercebeu que os “seus meninos”, já não careciam tanto, dos seus cuidados e desvelos, ao conhecer um rapaz natural de uma terra vizinha da nossa, que com ela fazia a safra da ceifa, numa herdade das redondezas, resolveu a nossa heroína, numa noite de S. João, quando quase toda a população da Vila, se entregava aos folguedos próprios da noite festiva, “fugir”com o seu homem, para a terra dele, e ali, constituíram família. Voltou mais tarde, a Barbacena, já com a sua ninhada de filhos, que criaram, lá pelos montes alentejanos, onde trabalhavam os dois.

Ficou viúva ao perder o marido, num violento acidente de viação, quando os filhos, ainda eram meninos, entretanto viu em poucos anos, partirem também, três dos seus irmãos, que ajudara a criar, com tanto trabalho e carinho.

Actualmente, vive na companhia dos filhos, já um pouco alquebrada, pelo peso da idade, pelo desconforto da tristeza, e pelos dissabores, que tão acintosamente, o destino, lhe tem reservado.
Um dia destes, encontrei-a casualmente, numa rua qualquer da Vila, e cumprimentei-a - como aliás sempre o faço -, quando com ela me cruzo, e com o respeito que ela merece. Mais uma vez, partilhou comigo, o seu rosário de amarguras e contrariedades, que lhe têm surgido, no caminho.Com a preocupação que tive, em lhe dar algum alento, lamento, ainda não ter sido desta vez - que tive oportunidade de lhe dizer de viva voz -, o quanto a admiro e valorizo o seu exemplo.
Neste meu testemunho, chamei-lhe “Joana” contudo, poderia muito bem, ter-lhe chamado, mulher coragem.

Nota: Baseia-se esta narrativa, em factos verídicos, ocorridos há algumas décadas, em Barbacena, Vila Alto Alentejo, de notar também, que nenhuma das fotos, que a documentam, têm qualquer relação directa, com a mesma, ou com os protagonistas, nela mencionados .

Setúbal, 19 de Fevereiro de 2019


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