TRISTE MEMÓRIA
Muito, dele se tem falado, em especial nos últimos quarenta
e cinco anos, que são quantos já passaram, após a sua desactivação, como
presidio militar; refiro-me, ao famigerado e tristemente célebre Forte da Graça,
mais conhecido através do País, e do Mundo, pela designação, de Forte de Elvas.
Muitas pessoas, se têm encarregado de contar a história daquele antro
penitenciário, onde a pretexto de se executar justiça e disciplina, também ali,
eram praticados, os antónimos destes dois vocábulos.
Também eu, por várias vezes, trouxe aqui, a esta página, publicações,
relacionadas com o Forte da Graça; contudo, hoje, apenas quero dar-vos conta de
que me foi enviada por um amigo, a partir de Barbacena, uma cópia de um velho
poema, quiçá escrito, por um dos infelizes militares, que durante a vigência do
chamado Estado Novo, ali expiou a sua pena, e que está exposto, para quem o
queira ler, numa barbearia, situada na Rua de Alcamim, em Elvas. Como muitos
dos poemas escritos ao longo dos anos, pelos presos do Forte, também este
recebeu o título de "A Barrilada", designação utilizada, para designar o
aviltante cortejo de presos que de barril ao ombro, carregavam morro acima, a
água necessária, para o consumo no forte.
Embora, suspeite que esta versão poética, não seja a mesma, que durante os escassos
meses em que eu próprio cumpri parte do meu serviço militar naquela cidade da
raia, se ouvia lá nas tabernas da velha cidade, cantada por militares, vou aqui
publicá-la, por pedido desse meu amigo, e em homenagem a esses injustiçados
(nem todos), homens, meus contemporâneos.
Eis então;
Ainda mal o sol, despontava, ao longe,
Já de um buraco escuro, sujo e vil
Saíam andrajosos, parecendo monges,
Preparados, para a faina do barril.
Já de um buraco escuro, sujo e vil
Saíam andrajosos, parecendo monges,
Preparados, para a faina do barril.
Lá vão todos, pela estrada fora,
E ao ver,o romper da bela aurora,
E a manhã que nasce cedo e fria,
Lá vão, tendo no peito a ansiedade,
E o amor da pura liberdade,
Essa, que eles perderam um dia.
E ao ver,o romper da bela aurora,
E a manhã que nasce cedo e fria,
Lá vão, tendo no peito a ansiedade,
E o amor da pura liberdade,
Essa, que eles perderam um dia.
O cansaço que cada corpo encerra,
E o violento bater do coração,
Parece desaparecer, ao fim da Serra,
Ao avistarem a Porta do Dragão.
E o violento bater do coração,
Parece desaparecer, ao fim da Serra,
Ao avistarem a Porta do Dragão.
Mas, depois, chega a amargura,
Ao avistar-se o Forte, lá no combro,
De um cabo, uma voz rebelde e dura,
Ordena, que o barril, nos pise o ombro.
Ao avistar-se o Forte, lá no combro,
De um cabo, uma voz rebelde e dura,
Ordena, que o barril, nos pise o ombro.
Ao ombro..!! Diz uma voz torturante,
Que se ouve a cada instante
Mal se pousa o barril, para descansar,
Ao ombro..!! Prá frente, não curvados..!!
Que se ouve a cada instante
Mal se pousa o barril, para descansar,
Ao ombro..!! Prá frente, não curvados..!!
Com os seus rostos suados
E no peito, um mau arfar.
Após chegar ao Forte, a barrilada,
Toda a gente, descansa, um bocadinho
No seu rosto, há uma cor bronzeada,
E nela existe apenas, um sorrizinho.
Toda a gente, descansa, um bocadinho
No seu rosto, há uma cor bronzeada,
E nela existe apenas, um sorrizinho.
Adeus, maldito Forte da Graça,
Aonde, a maior desgraça,
Lá viveu, sempre comigo,
Adeus rapazes amigos,
Espero que a vossa boca,
Diga alegre e como louca,
Um adeus, como eu, lhe digo.
Aonde, a maior desgraça,
Lá viveu, sempre comigo,
Adeus rapazes amigos,
Espero que a vossa boca,
Diga alegre e como louca,
Um adeus, como eu, lhe digo.
(Autor desconhecido)
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