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Meras Coincidências, ou a Ira de Deus?


Meras  Coincidências, ou a Ira de Deus?



Por se comemorar hoje em todo o Mundo Cristão a festa móvel do Corpo de Deus, lembrei-me de convosco partilhar, a memória de um acontecimento estranho, que nos era narrado oralmente, por pessoas mais velhas de Barbacena, as quais, no distante ano de 1924, precisamente no dia de Corpo de Deus, foram testemunhas presenciais, de um inusitado fenómeno astrológico, que causou algum sobressalto na nossa Vila e arredores.


Não me lembro eu, nenhum dos meus amigos se lembrará, deste estranho e raro fenómeno da Natureza, ocorrido na zona fronteiriça, naquele já distante dia 19 de Junho de 1924, que por coincidência, e para acicatar mais a crendice daquele pobre e mal informado povo, (não havia os meios de comunicação de que hoje, dispomos) daquela época, coincidiu com o dia em que comemorava o Corpo de Deus.

Durante os anos que passei em Barbacena, e em cada feriado deste dia santo e de guarda, a memória daquele acontecimento, era trazida à conversa, pelas pessoas na época ainda vivas, que se lembravam do susto por elas vivido, e que jamais esqueceram, até falecerem. Devido ao que me foi proporcionado ouvir, aos meus familiares, e às outras pessoas da Vila, que comigo falavam sobre o assunto, foi para mim, fácil imaginar, o que teriam sentido aquelas pessoas, que integravam um pequeno rancho de ceifeiras, que nesse dia se entregavam à safra da ceifa, lá nas courelas da Coutada de Barbacena, contava-me uma dessas ceifeiras, que viveu o acontecimento, que o rancho, tinha suspendido momentaneamente o trabalho, para ingerir a "bucha", que servia de pequeno-almoço, às trabalhadoras; o dia estava esplêndido; o céu liberto de nuvens parecia querer anunciar àquela hora da manhã, mais uma jornada de calor estival, pois o Verão daria chegada dentro de dois ou três dias. Inesperadamente, um violento estrondo muito mais forte que o ribombar do trovão de tempestade iminente, fez-se ouvir ensurdecedor, ecoando por toda a campina; quase de imediato uma réplica menos forte, troou assustadora, fazendo aumentar o temor daquela pobre gente, que chegou a pensar, que teria chegado o dia do juízo final. No céu, até ali, completamente limpo, surgiu um rasto branco fusiforme, como uma nuvem gigante em forma de fuso. 

Uma das ceifeiras, talvez a mais expedita, pegando nas foices, que estavam prostradas ao longo do corte no restolho, começou a atirá-las para longe, seguindo, talvez a velha lógica, de que o metal, não é bom companheiro durante estes momentos de apuro. Quando a acalmia voltou ao seio do grupo, a surpresa e o sobressalto deram largas à crendice, e não tardaram os comentários, entre as ceifeiras, nos quais elas próprias, por entre salmos, preces e orações, se penitenciavam, por terem ido trabalhar, naquele dia de guarda dedicado à festa do Corpo de Deus. Lembro-me eu, alguns de vós se lembrarão, que durante muitos anos, as ceifeiras de Barbacena, evitavam ir trabalhar nesse Dia Santo, por temerem algum "ralhete" vindo do céu.

Vários pedaços de rocha, em forma de amálgama, foram depois encontrados na região de Elvas e Olivença, os quais, depois de analisados por peritos se concluiu, serem fragmentos de asteróides, que depois de se desprenderem dos planetas e cometas e ao entrarem na atmosfera, provocaram estrondos e nuvens de poeira, que assustaram as nossas ceifeiras. Há pedaços dessa estranha amálgama, nos museus de Elvas, Braga, Lisboa e Porto; lembro-me que há alguns anos, durante uma visita que fiz ao Museu Etnográfico de Elvas, instalado na época, no Largo do Colégio reparei que numa das vitrinas, um disforme pedregulho como estes que as imagens que anexo, documentam, tinha a identificá-lo, a seguinte legenda: «- Fragmento do meteorito ocorrido no dia 19 de Junho de 1924,recolhido na Quinta do Sardinha, nos arredores de Elvas».



Setúbal,  20 de Junho de 2019

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