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 SE NADA MAIS SOUBERES AO MENOS
CONHECE A HISTÓRIA DA TUA TERRA


O Seareiro

O Seareiro


Os dicionários e enciclopédias designam-no como pequeno agricultor, que se ocupa em fazer arranjos e semeaduras, em pequenas parcelas de terra, em regime de minifúndio.
Em Barbacena, e de forma geral em quase todo o Alentejo, foi até há poucos anos, figura típica, daquela região, e dedicando-se à exploração de parcelas de terra, sua propriedade, ou em sistema de arrendamento, granjeava o seu sustento e o dos seus.

Ser seareiro em Barbacena, há cerca de cinquenta ou sessenta anos, era pertencer a uma profissão, da qual se dizia, que os seus executantes, iam paulatina e alegremente, empobrecendo; contudo, o estatuto ganho por estes homens executantes da agricultura de minifúndio, dava-lhes o direito à classificação de «senhores remediados» promovendo-os socialmente, alguns degraus acima, dos outros seus patrícios, da plebe, que mourejavam também nos campos agrícolas, mas a soldo dos grandes latifundiários.
Na época a que acima me refiro, tinha a Vila de Barbacena, cerca de oitenta destes trabalhadores, que por conta própria, e com a ajuda de um, ou dois muares, e as respectivas alfaias, iam arroteando as parcelas de terreno que tinha sob seu usufruto, ao que acrescentavam os lucros da pastorícia de gado ovino, que também quase todos possuíam. Nos ferragiais da Vila, na Botaia, ou na vasta Coutada doada em parcelas, pelo último conde do burgo, aos chefes de família, nos anos vinte do século passado, iam semeando trigo, cevada, aveia, favas, tremoços e outros cereais, todos em regime de sequeiro.
Nomes como: João António Borrego, José Ovos (Má Raça),António Borrego Carvalho (Canhinhas) ,João Gadanha Cachucho, José Laço, (Zé da Vinha)João Martins, os irmãos Joaquim e Manuel Fanico, irmãos João e José Rúbio Caras-Altas, Francisco Vieira Valentim, António Valentim, Joaquim Pires (Francês), António Rosado (Parrôcho) Joaquim dos Reis, e tantos outros, foram dignos representantes, da agricultura de subsistência, em Barbacena.
Porque sempre admirei estes homens, que por vezes, nos davam umas boleias nas suas viaturas de tracção animal, resolvi hoje, lembrá-los em prosa, e versos rimados, rendendo homenagem a estes filhos da minha terra, meus contemporâneos, que trabalharam até que as forças físicas lhes permitiram, tirando dos por vezes, paupérrimos solos, da charneca, o seu sustento, e o das suas não raramente, numerosas famílias.

Foste figura tão nobre
Na Vila de Barbacena,
Tua honrosa ocupação
Da produção, foi alfobre
A tua vida, foi plena
Com afã e dedicação
Seareiro, ó seareiro,
Fosse eu, um pintor,
Pintava-te, como eras
Com esse ar trigueiro,
Realçando-te o labor.
Eu te admiro, deveras
Ó seareiro incansável,
Foste talismã da Vila,
Tua memória durável,
Perante nós, se perfila,
Num gesto puro, e afável.
Da Coutada, ao Tonejão
Quatro Alqueires e Ribeira
Do Pica Milho, à Tapada
Até à ´´linda´´ do Torrão
São terras de sementeira,
De boa funda, almejada.
Teu esforçado labor,
É para sempre lembrado,
Pois foi com o teu suor,
Que te tornaste afamado
Ó pequeno lavrador....
Foste bem sacrificado.
Quem me dera ser escultor,
Para esculpir, na virgem pedra,
Esse teu aspecto sofredor,
Na terra arduamente granjeada,
E o orgulho, que assim medra,
Atestando cabalmente o teu valor.

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