NOITE
Que me intriga, e da qual conheço as tentações,
Essa mesma, que incita ao crime, e ao pecado,
Cai monótona, sobre o casario do povoado, privado de gente;
Todavia, noite: eu te bendigo, desejo e
anseio;
O teu abraço, noite... é macio, como o luar quieto,
Como a sagrada e ungida, tumba de soldado,
Que caiu algures, no cumprimento, do Pátrio dever
Com a tua chegada, noite...a fadiga, me esvai.
Contemplo o teu manto pardacento, que cobre e domina,
Os telhados mouriscos do casario quedo, da minha Vila,
Que tem agora, tonalidades de luz, para mim, desconhecidas,
Estranhas, cativantes... muito diferentes, das que outrora,
Eu conheci, estranhas, e tristonhas vielas que… amedrontavam.
Mas...noite...eu vim dormir contigo, e levitar,
De sonho em sonho, onde serei poeta, e mendigo, talvez
Como atrás, no tempo, eu, me perdi, no espaço, e vi desfazer-se meu pensamento
antigo, transformar-se...
A sombra que tu noite, trouxeste ao povoado, que é o meu.
Na solidão, que tu me causaste, noite impertinente, uma
Nesga de consolação me anima, porque te encontrei, noite,
E em meu triste abandono, meu olhar disfarcei, na volúpia
Do sono, e caminhei contigo, em busca de mim, mesmo.
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