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 SE NADA MAIS SOUBERES AO MENOS
CONHECE A HISTÓRIA DA TUA TERRA


Minha Escola, Minha Amiga (2)

Minha Escola, Minha Amiga.


Não sei se todos eles irão ler estas linhas, que dedico ao saudoso espaço onde todos nós, aprendemos as primeiras letras, mas é a estes meus condiscípulos, durante os quatro anos que frequentei aquele espaço, e agora, são também, meus amigos, por aqui, no facebook, que dedico, o que hoje resolvi escrever sobre a nossa Escola Primária.

São eles;
António Luís Ganhão Rolhas
Belchior Ganhão Rolhas
Francisco Gordo Cachucho
João Eusébio Bandeiras Arraia
José Cadete Valentim
José Capitão Belchior
José Domingos Sovela Pernas
José Sainica
Leandro Laço Tiago
Mamede Arrifes
Manuel Fanico Pernas
Manuel Rodrigues Cordeiro
Pedro Caras-Altas Sengo
Sebastião José Catalão Panaças


Minha escola minha amiga
Luz de todo o meu saber
Nunca poderei pagar-te
Quanto te fico a dever!

Foste base, e do saber, foste fonte
Para quem estava a começar
Por tal quando aí passo defronte
Não passo, sem te saudar!


Sofreu ao longo destes anos, que já são muitos, profundas alterações, e é com alguma mágoa, que agora, a vejo cercada, com altas vedações, como se de qualquer casa de reclusão, ou presídio, se tratasse; as regras de segurança, assim o exigem.
Ganhou um primeiro andar, e até já, ostenta um vistoso pavilhão gimnodesportivo, onde os actuais alunos, e não só, praticam as mais diversas modalidades de desporto.
Contam-me, que as crianças que nela aprendem actualmente, usufruem de uma cantina ou refeitório, onde tomam as suas refeições. Os jornais, rádios e televisões, já por várias vezes, vaticinaram, o seu encerramento definitivo, devido à acentuada escassez de alunos, que dela precisam, para aprenderem as primeiras letras e algarismos, o que até à actualidade, felizmente, não tem acontecido.
A minha escola, era mais modesta, e menos vistosa, do que a sua versão actual; era um edifício térreo, com duas grandes salas de aulas, que acomodavam, cerca de uma centena de alunos (só rapazes), distribuídos por quatro classes, que constituíam o ensino primário obrigatório, na época; as meninas, tinham uma outra escola, separada da dos rapazes, e que ficava situada na Rua Direita, no primeiro andar do edifício do edifício, onde estava instalada, a antiga Junta de Freguesia.

A minha escola, era igual a todas as outras escolas, que pelo País fora, exibiam a traça urbanística, que o Estado Novo, escolheu, para os seus estabelecimentos de ensino.

O horário praticado naquele tempo, para as nossas aulas, era o das nove às dezassete horas, com o intervalo de uma hora, para o almoço. Sentávamo-nos, aos dois e dois, em carteiras de madeira castanha, que tinham os bancos incorporados, no móvel, onde escrevíamos, e apoiávamos os manuais escolares; ao centro, tinham as carteiras, um buraco redondo, onde era colocado um tinteiro de porcelana branca, que servia de depósito para a tinta azul, na qual nós embebíamos os afiados aparos descartáveis, que eram acoplados em canetas, feitas em pau, com as quais escrevíamos. Para além dos livros e cadernos, em que fazíamos as cópias e os ditados, nós usávamos como acessório prático, a velhinha ardósia, a que vulgarmente chamávamos a «pedra das escola», na qual se faziam as contas e os intrincados problemas de aritmética, utilizando um lápis próprio, também ele, feito de lousa cinzenta. Lembro-me da minha ardósia, quando vejo algumas dessas modernas «tabletes» electrónicas, ligadas à Internet, porque as semelhanças físicas, são notórias.

Grande parte dos alunos, com menos possibilidades financeiras, transportavam os seus livros e cadernos, em sacolas feitas de serapilheira, onde por vezes, também vinha, um naco de pão com minguado conduto, para a merenda.

Também tinha naquele tempo, aquela escola, nas suas traseiras, um terreno plantado de olival, onde o professor, um beirão austero, na disciplina, e nos castigos que infligia aos alunos, menos atentos, tinha uma horta, e alguns animais domésticos, e onde nos dava algumas aulas de ``Ciências da Natureza´´.
Quando chegávamos à escola de manhã, e já no interior da sala de aula, a primeira coisa que fazíamos, depois de saudarmos o professor com o braço estendido, era cantarmos o Hino Nacional em uníssono, e depois recitávamos uma oração em coro.

Na parede, sobre o quadro negro, a ladear uma cruz de madeira castanha, onde um Cristo de metal cinzento, parecia contorcer-se em agonia, havia dois grandes quadros, com as fotografias de Salazar e Carmona, ambos de ar sisudo, e que pareciam ralhar-nos lá do alto, quando na ausência do professor, fazíamos algumas traquinices.

Nas aulas daquela escola, eu, e os meus condiscípulos, éramos obrigados a decorar, para além da tabuada, todos os rios e seus afluentes, as serras de todos os sistemas orográficos, do vasto império Português, de então, bem como as linhas e ramais, dos Caminhos de Ferro Portugueses.
Algum erro na escrita ou resposta verbal menos assertiva, à pergunta do professor, tinha uma punição, que consistia em algumas reguadas nas mãos inocentes; era com esta violência, inconcebível nos dias que correm, que se ensinava, naquele tempo.

Tinha a minha escola, em vez do moderno pavilhão, que agora ostenta, um espaçoso telheiro, onde nos dias chuvosos, e durante o recreio nos abrigávamos, e na sua parte fronteira, tinha um lindo jardim, com esbeltos canteiros floridos, os quais eram tratados, pelos alunos mais velhos da escola; não tinha todavia, aquele espaço de ensino, do qual guardo gratas recordações, as condições de conforto, que os modernos espaços, seus congéneres ostentam, mas ele, foi para mim, como também o foi certamente para algumas centenas de alunos que por lá passaram, a casa, onde aprendemos as primeiras letras e números, que serviram para ``abrir caminho´´ nesta dura caminhada, que é a vida; por tal motivo, quando por ela passo, contemplo-a e bendigo-a, a ela, a minha escola.



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